Todos os dias uma multidão de catadores de materiais recicláveis se espalha pelas ruas das cidades, numa jornada de trabalho de, em média, dez horas diárias, em condições insalubres e precárias. Embora circulem por lugares públicos, esses trabalhadores costumam ser ignorados pela sociedade.
Como consequência desta "invisibilidade pública", essas pessoas têm uma autoestima muito baixa, o que as tornam vulneráveis diante dos riscos ambientais à saúde. A conclusão é de um estudo desenvolvido pela bióloga Jandira Aureliano de Araújo no mestrado em saúde pública da Fiocruz Pernambuco.
Na pesquisa, Jandira investigou as percepções e atitudes diante dos riscos ambientais à saúde de catadores de materiais recicláveis da comunidade de São José do Coque, no Recife. O estudo mostrou que, embora os catadores percebam os riscos aos quais estão expostos, eles quase não tomam atitudes preventivas.
"Eles não utilizam nenhum equipamento de proteção individual (EPI) porque não têm dinheiro para comprá-los e porque os acham desconfortáveis. Alguns ainda atribuem a responsabilidade de aquisição dos EPIs à prefeitura", explica Jandira.
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Risco à saúde
Segundo mestranda, é comum os catadores minimizarem, naturalizarem e até negarem os riscos à saúde. "Eles os consideram inerentes ao trabalho. Para eles o risco de morrer de fome é maior", sentenciou. O grupo investigado percebe a saúde como disposição para o trabalho, bom relacionamento social, liberdade de decisão e ausência de doença.
Na comunidade estudada, 124 pessoas trabalhavam como catadores. Eles percorrem longas distâncias, puxando de 200 a 300 quilos de material. O esforço físico para a condução das carroças é um grande motivo de queixas relativas à problemas nas pernas, hérnia e dores nas costas.
Com a venda do material coletado - por um quilo de papelão recebem de R$ 0,10 a R$ 0,15 - os catadores ganham de R$ 30 a R$ 50 por semana. A relação de trabalho com os donos de depósito que compram o material coletado é considerada como exploratória pelos catadores e gera um alto grau de insatisfação desses trabalhadores, influindo diretamente em sua saúde mental, uma vez que causa revolta, constrangimento e depressão. (Informações da Agência Fiocruz de Notícias)