Em meio às queixas de associações sobre falta de medicamentos para atender novos pacientes, o Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira, 5, o lançamento de um plano para eliminar a hepatite C até 2030. A estratégia prevê a redução das etapas para o diagnóstico da doença e a ampliação da testagem em grupos considerados prioritários (como pessoas vivendo com HIV/aids, pacientes que fazem diálise, usuários de drogas e bebês de mães que têm hepatite C).
A previsão é atender 50 mil pacientes por ano até 2024 a partir do ano que vem. Este ano, seriam entregues tratamentos para 19 mil pacientes. O quantitativo para 2018 agora anunciado pelo ministério, no entanto, é bem menor do que havia sido divulgado em 2017. No ano passado, a pasta já havia firmado o compromisso de ofertar pelo menos 50 mil tratamentos anuais, começando em 2018.
A diretora do Departamento de IST, HIV/aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, Adele Benzaken, atribui a mudança do cronograma e a redução das metas para este ano ao atraso na publicação de um documento que seria indispensável para o início do processo de compras, o Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas. O manual, com indicações de como deve ser feito o tratamento, foi lançado em março.
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Integrante do grupo Otimismo, de apoio à pessoa com hepatite, Carlos Varaldo afirmou haver um número considerável de pacientes que têm o diagnóstico de hepatite C e indicação de tratamento, mas que, até agora, não receberam os remédios necessários. "Isso gera uma expectativa enorme. Se acabaram os estoques de medicamentos, por que médicos e pacientes não foram avisados?" pergunta. Hoje todas as pessoas com hepatite C têm indicação de tratamento, independentemente do grau de lesão no fígado.
Em uma carta enviada ao ministro, a associação pondera ainda que a aquisição deveria ser feita de forma rápida, sob o risco de, no próximo ano, o orçamento para a compra ser reduzido.
Adele afirma que uma compra de 8 mil tratamentos foi feita para atender à demanda imediata e que os medicamentos deverão ser entregues em um prazo de um mês. Ela assegura, ainda, que um processo de compra para 50 mil tratamentos será iniciado em breve. Desse montante, 20 mil seriam entregues este ano e o restante, em 2019.
Números
No ano passado, foram identificados 24.460 pacientes com hepatite C. No ano anterior, foram confirmados 28.397 casos. A queda é atribuída à melhora na qualidade de banco de dados. A doença é mais comum em pessoas com mais de 40 anos e pode provocar cirrose e câncer.
A diretora afirma que atualmente 325 mil pessoas têm hepatite e não sabem. Para Adele, um dos avanços do plano de erradicação é mudar a lógica para a aquisição dos medicamentos usados no tratamento. A alteração permitirá a compra dos tratamentos de forma antecipada, antes de a demanda ocorrer. "O sistema era injusto. Vamos alavancar esse processo."
Críticos da proposta, contudo, avaliam que o programa traça metas audaciosas sem ter condições de colocar as medidas em prática. Entre 2000 e 2016, o Brasil registrou 23 mil mortes por hepatite C. Isso representa pouco mais de 70% dos óbitos provocados por hepatites. Outros tipos de hepatite (A e B) também preocupam.
A taxa de transmissão de casos de hepatite A dobrou em 2017, quando comparada a 2016. No ano passado, foram 2.086 casos. Mais da metade das infecções foi registrada em São Paulo, em decorrência de um surto, provocado por transmissão via sexual, entre homens com idade entre 20 e 39 anos. "O problema foi solucionado. Foi recomendado na época vacinação entre grupos de homens que fazem sexo com homens", disse Adele. Ela descartou, porém, a hipótese de se ampliar a recomendação de vacinação para homens que fazem sexo com homens em todo o País.
No ano passado, o País registrou 13.482 casos de hepatite B, menos do que os 14.702 comunicados em 2016. Apesar da queda, Adele observa que essa forma de infecção é a segunda causa de óbitos entre hepatites virais. Em 2016, foram 477. "A vacinação é a melhor estratégia de prevenção", diz. Para fazer frente às quedas nos indicadores de imunização, Adele afirmou estar em estudo no Ministério da Saúde a adoção da "vacinação acelerada."
Nesse esquema, depois da primeira aplicação, seria feita uma segunda dose sete dias depois e a terceira, aos 21 dias, com um reforço depois de um ano. Para a diretora, esse esquema, que deverá ser testado em uma primeira etapa numa comunidade indígena, poderia reduzir o risco de pacientes tomarem as primeiras doses e se esquecerem de completar o esquema.