A combinação é ‘venenosa’: falta de tempo para atividades físicas, alimentação inadequada, quilinhos a mais distribuídos pelo corpo - principalmente na barriga - e estresse. Mais cedo ou mais tarde, esses hábitos de vida vão se refletir em um coração infartado. Dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus) revelam que o infarto agudo do miocárdio fez com que 4.557 paranaenses fossem submetidos a cirurgia ou procedimento hemodinâmico nos primeiros sete meses de 2010 para tratarem de um infarto. Em 2009, esses pacientes foram 8.049, que custaram ao SUS R$ 66 milhões.
Levando em conta o crescente número de usuários de planos de saúde, é possível estimar que mais de 10 mil pessoas precisam de procedimento hemodinâmico ou cirúrgico anualmente no Paraná. Somente entre os clientes da Unimed Londrina, 318 passaram por um desses procedimentos no ano passado.
O infarto é causado por uma doença que os médicos tratam pelo nome de ‘aterosclerose’. Em linhas gerais, consiste na formação de placas de ateroma - formadas por gordura e células inflamadas - nas artérias, inclusive as que envolvem o coração, chamadas de coronárias.
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‘Nascemos com a artéria normal. Mas a aterosclerose é uma doença crônica que vai se formando na parte de baixo da artéria, porém sem obstruí-la ou dificultar a passagem de sangue. O problema crônico torna-se agudo quando a parede arterial se rompe - por causa do estresse, do tabagismo, do diabetes ou outros fatores - possibilitando que a placa de ateroma entre em contato com o sangue. Essa placa é inflamada e, por isso, muda o sistema de coagulação, obstruindo a artéria. É o infarto’, explica o cardiologista Ricardo Rodrigues, do Centro do Coração de Londrina.
O coração bombeia sete mil litros de sangue por dia, batendo, em média 86,4 mil vezes em 24 horas. É desse órgão a função de enviar sangue com oxigênio, fundamental para a vida das células, para todo o corpo humano. Mas o coração também depende de sangue para seu bom funcionamento, por isso ‘grita’, em forma de dor, uma das piores que o ser humano pode sentir, quando as coronárias são obstruídas.
Os números do Datasus indicam ainda que 32,3% das mortes que acontecem no Estado são causadas por doenças do aparelho circulatório. A boa notícia, segundo Rodrigues, é a seguinte: as chances de não sofrer um infarto aumentam consideravelmente quando são adotadas modos saudáveis de vida.
‘Um estudo feito nos Estados Unidos mostra que cerca de 10% das crianças tem placas de ateroma nas artérias. Elas estão presentes em 50% das pessoas com mais de 30 anos. Mas existe tratamento para isso. Há bons medicamentos no mercado. O problema é que as pessoas procuram o cardiologista tardiamente, quando já apresentam sintomas e estão à beira do infarto’, enfatiza o médico.
Muito além do infarto
O coração de um adulto humano pesa, em média, 300 gramas. É um músculo, com a importante função de mandar sangue para o corpo todo. Embora os médicos não o classifiquem como extremamente complexo quando comparado com outros órgãos, como o cérebro ou o rim, é dotado de diversos mecanismos: quatro válvulas, dois átrios e dois ventrículos, artérias, veias.
Para executar sua função de ‘bomba’, trabalha automaticamente, tendo o impulso elétrico para suas atividades gerado no próprio coração, apesar de o ritmo de batimentos ser controlado pelo sistema nervoso.
Esse impulso é gerado pelo nódulo sinusal, que fica na parede do átrio direito e transmite a ‘mensagem elétrica’ para o órgão todo por meio de um sistema de fibras, feixes musculares e nós especiais.
Quando acontecem falhas no nódulo sinusal ou no sistema de distribuição da eletricidade pelo músculo, desencadeiam-se as arritmias cardíacas, que, em casos extremos, causam a morte súbita. O tratamento para elas, de acordo com o cardiologista Ricardo Rodrigues, pode ser medicamentoso, o implante de um marca-passo ou até um procedimento hemodinâmico chamado ablação por cateter.
As válvulas também apresentam problemas, muitas vezes congênitos, e que precisam de tratamento cirúrgico.
Além disso, de acordo com o cirurgião Arnaldo Okino, há também a síndrome da insuficência cardíaca, que cresce na mesma medida em que aumenta a expectativa de vida da população.
"Definimos que há uma insuficiência cardíaca quando o coração não consegue fazer a sua função de bomba, o que pode acontecer por vários motivos, como a arritmia, uma doença de válvula ou hipertensão que não foi tratada. O melhor tratamento para essa síndrome é ter os mesmos hábitos saudáveis que evitam a doença coronária e usar medicações, que hoje estão avançadas. Dessa forma, é possível ao paciente até evitar chegar ao ponto de ser candidato ao transplante cardíaco, o que acontece, algumas vezes, por falta de diagnóstico’, alerta o cirurgião.