Alguns assuntos ganham repercussão fora do comum no Londrina. Para o bem e para o mal. A crise criada após o empate com o Ceará foi desnecessária e inoportuna. Que as consequências não ultrapassem os muros da SM Sports.
Conviver com críticas é parte do trabalho de qualquer profissional do futebol. Quando você mexe com a paixão das pessoas é normal ser 'atacado' quando o resultado não satisfaz.
Claro que há um desapontamento de todos com os tropeços do time no estádio do Café. Mas, quem, nesta série B, não tem perdido pontos em casa? Não há nenhuma exceção. Os números mostram que os visitantes tem levado a melhor, quase sempre.
O mesmo Ceará que comemorou o empate com o LEC, três dias depois tropeçou diante do Luverdense, na Arena Castelão. Imagine se o Londrina, que não ganha a três jogos, estivesse como o rival cearense, que não vence há dez. Como gosta de dizer o torcedor, até o pipoqueiro já tinha caído.
A campanha do Londrina é muito melhor do que todos, estou dizendo todos - do mais fanático ao mais pessimista torcedor - imaginavam antes de começar a série B. O time, em nenhum momento, ficou próximo da zona do rebaixamento e, na maioria das rodadas, sempre esteve perto do G4, como acontece neste momento da competição.
O gestor Sérgio Malucelli tem todo o direito de cobrar os seus funcionários. A acomodação é um dos males mais perigosos em um time de futebol. Jogador tem que estar sempre sendo instigado, cobrado e motivado, mesmo ganhando altos salários e tendo uma condição muito melhor que qualquer outro trabalhador.
Até pela sua autenticidade, virtude rara nos dirigentes do futebol brasileiro, Malucelli fala o que realmente pensa e não escolhe hora e nem lugar. Por isso, quase sempre, o homem do futebol alviceleste acerta no conteúdo, mas erra no tom.
Imagine você ser cobrado pelo seu chefe por mais eficiência e qualidade, ter os seus defeitos e fragilidades expostos na frente dos demais funcionários ou de clientes ou até de pessoas de fora? Como você reagiria? Isso te motivaria ou desmotivaria?
Não acredito que estas cobranças, internas e externas, irão interferir no jogo do time daqui para a frente. Nem para o bem e nem para o mal. Como todos nestas série B, o Londrina tem as suas limitações técnicas e as suas virtudes.
E foi este equilíbrio que trouxe o alviceleste até aqui. Claro que o LEC pode jogar mais, sobretudo em relação aos três últimos jogos, mas não se pode exigir algo diferente de quem não tem a oferecer.
Todo elenco de futebol é montado em cima de um perfil. E o Londrina fez o seu buscando jogadores que se encaixavam na política do clube e no perfil de trabalho do treinador. Querer que este grupo mude a forma de ser de um dia para outro é dar murro em ponta de faca.
Aliás, foi esta maneira de trabalhar que delineou o Londrina desde 2011, com enorme sucesso. Claudio Tencati conhece melhor do que ninguém o clube e já lidou bem com outros momentos turbulentos.
Vai saber blindar o elenco e manter o foco no trabalho, apesar do clima interno já não ser tão harmonioso como em outras épocas. A 'crise', criada pelo próprio clube, apimentou ainda mais este ambiente.
Com tudo isso e, apesar disso, o Londrina tem tudo para terminar muito bem a série B, subindo ou não.