Véu na cabeça e prostrada diante de Deus, Dalva clamava forças para enfrentar a gravidade da situação que a vida lhe apresentara. Dez anos após escolher César como o pai dos dois filhos – Guilherme e Rodrigo – ela se via diante de uma escolha tão complicada quanto dolorida.
A dica veio do filho mais velho, Guilherme, ao encontrar no computador da família, endereços pouco recomendáveis a uma criança. Uma vez instalada, a dúvida passou a corroer-lhe sistematicamente. Determinada, chamou César para mais uma franca conversa. Negação veemente e reafirmação do futuro que prometia ser eterno.
O mesmo buço, os mesmos pêlos escuros nos braços, a mesma fé inabalável que Deus tudo provê. Naquela sala grande e bem decorada, Dalva simplesmente chorava resignada. Perdoou genuinamente e jamais lançou uma pergunta sobre o passado. Mulher de fibra, conseguia como poucas viver o presente, com uma ou outra projeção de futuro. Cada dia, um dia.
Assim, nunca soube que as fotos que recebeu no dia do noivado foram reveladas naquela famosa empresa que recebia e retornava filmes pelo Correios. Nem mesmo supôs que Marcelo fora um pedido que César fizera a Deus – como no filme A Cor Púrpura – ao sair de uma frustrada noite de pegação numa boate gay. Também sequer imaginou que sites visitados na internet eram uma mera tentativa de distrair a atenção. E jamais desconfiou das muitas visitas de César à chácara da família. Nem mesmo no pior pesadelo, imaginou que o primo dela, caseiro da chácara, pudesse fornicar com o marido, pai zeloso e servo temente a Deus.
- Pense bem nos seus filhos. Foi tudo que a mãe conseguiu dizer, quando Dalva ameaçou desabafar sobre o fato de César não procurá-la na cama havia mais de seis meses.
Ao rever o álbum de fotografias do casamento, recuperou forças para continuar acreditando que ela, somente ela, era a única escolha na vida de César.