Numa coisa praticamente todos os fãs da televisão estão de acordo: Luiz Fernando Carvalho é o único diretor com pegadas ousadas e criativas na direção de obras voltadas ao público em geral. E talvez resida aí, também, o maior "defeito" dele.
De cenas absolutamente triviais em novelas como Renascer e O Rei do Gado, da minissérie mais injustiçada da teledramaturgia, Os Maias, até à genial Hoje é Dia de Maria, ele praticamente conseguiu imprimir "poesia" em todas as cenas. Sabe usar a câmera de modo a valorizar a história que está sendo contada. É uma grande exceção, balizada pela Globo, num universo que busca na repetição o segredo do sucesso.
É visível a "mão" do diretor no trabalho dos atores de Afinal, o que querem as mulheres?, série em seis episódios, que a Globo está exibindo às quintas-feiras. Até a fraquíssima Vera Fischer parece ter consistência quando bem dirigida. Paola Oliveira está um vulcão de sensualidade, mostrando confiança e confirmando porque conseguiu status de estrela tão rapidamente. Rodrigo Santoro está ótimo como o ator deslumbrado com o sucesso. O protagonista Michel Melamed é totalmente convincente. E os novatos comprovam que o diretor também é um excelente descobridor de talentos.
Na série, existe um clima idílico, meio etéreo, que deixa a gente sem saber o que é "realidade", o que é delírio, o que é metalinguagem, quem está falando com quem. As cenas rápidas, multicoloridas, num ritmo quase frenético podem confundir o telespectador menos atento. O texto poderia ser melhor, mas afinal nem tudo pode ser perfeito. Fico na dúvida se o público de maneira geral consegue acompanhar a "viagem". A história é tão simples como inexplicável. Um pesquisador que pretende descobrir o que querem as mulheres e usar as respostas para escrever uma tese de doutorado. Como isso é praticamente impossível, serve de mote para os desvairios do protagonista.
O que fica claro é a total liberdade e confiança que Luiz Fernando Carvalho goza dentro da Globo. Mesmo vindo de recentes trabalhos sem grande audiência, A Pedra do Reino e Capítu, é o único que tem carta branca para criar. E isso é um imenso presente para o grande público.