A final antecipada do BBB10 fez a Globo cravar 35 pontos de média em São Paulo, número espetacular para uma noite de sábado. E foram mais de 125 milhões de votos para que, no placar final, o londrinense Dicésar fosse eliminado com 58% dos votos.
As pessoas que me conhecem sabem que nunca fui fã do BBB. Acho que está longe de ser um bom entretenimento. Mas desta vez, justamente por conhecer Dicésar – não sou amigo, apenas o conheço – acompanhei o programa quase que na íntegra. E disse ao repórter da Folha de Londrina, Francismar Leme, que o mais bacana era ver as novidades que a produção trazia a cada edição. E esta, em especial, teve muita coisa, mas o destaque absoluto foi a "intenção" de se mostrar aberta à diversidade, colocando dois homossexuais e uma lésbica assumidos entre os confinados.
Ontem, estranhei muito o editorial lido por Pedro Bial, isentando a emissora sobre as declarações dos participantes etc. e tal. Há algo no ar, além dos aviões de carreira. Pode ser a ação do Ministério Público sobre a declaração de Dourado a respeito da Aids, pode ser o temor que algo concreto aconteça a Dicésar, que disse hoje no Mais Você, estar com medo de sair às ruas. Ele afirma ter recebido 11 mil e-mails com ameaças de uma torcida intitulada Máfia Dourada.
Nunca escondi de ninguém a minha torcida, embora tivesse feito algumas ressalvas sobre a pouca perspicácia dele em observar o jogo dos demais participantes. Mas, para mim, na essência, ele entrou lá com o coração, muito perdido, excessivamente ingênuo, com algumas fofocas e maledicências. Porém, fazendo o discurso da boa vizinhança, o que os outros competidores entenderam e disseminaram como falsidade. Quando o Dourado voltou daquele terceiro paredão, Dicésar comentou que era difícil mesmo voltar de tantas berlindas. Nunca disse que não votaria nele. O vídeo está aí no youtube para quem quiser checar. Dourado distorceu e fez os demais acreditarem na versão que lhe convinha. Como o próprio repetiu várias vezes, o BBB é um jogo de palavras.
A vontade popular não se explica. No máximo, lamenta-se. Não acredito em pessoas sem nuances. Todos nós temos momentos de bondade e de vilania. É da nossa natureza. E creio, sinceramente, que o gaúcho deve ter boas qualidades. O que me chamou atenção é a homofobia descarada, o não respeito pelas diferenças, a vontade de espancar uma mulher – manifestada sem o menor constrangimento ou pudor – a vocação eminente pela violência. A torcida dele, parece, aprendeu a lição. Ameaças como as que Dicésar tem sido submetido precisam ser apuradas e, se possível, prevenidas. Depois que acontecer algo, não adianta fechar avenidas e pedir justiça.
Esta edição do BBB10 me trouxe apenas indignação. Fiquei triste. Não apenas porque Dicésar perdeu. Mas principalmente porque me pareceu que os gays do BBB10 serviram apenas de escada para legitimar o preconceito latente na sociedade. Beto, meu amigo, foi decisivo: o brasileiro não gosta de gay. O resto é conversa fiada.
Para que não haja dúvidas: Dicésar não merecia ganhar apenas por ser gay. Mas por ser alguém de quem a gente não precisa ter medo.