Os programas e a propaganda eleitoral são pensados milimetricamente de acordo com o gosto dos marqueteiros, que se baseiam em pesquisas qualitativas diárias. A proposta é dizer o que o telespectador/ouvinte/eleitor prefere ver/ouvir. E como todos nós temos uma grande vocação para o autoengano, ouvimos e entendemos aquilo que queremos.
Neste segundo turno, vimos acusações atrás de acusações, ameaças atrás de ameaças. Parece até que o mundo não existia antes desses últimos 16 anos. Na hora de falar com o eleitor, os marqueteiros decidem não só o conteúdo daquilo que produzem. Para que os debates sejam realizados, antes a turma de cada partido se reúne para definir as regras. Impedem, por exemplo, que se mostre o candidato no momento em que o opositor elabora a pergunta. Quando permitem perguntas de jornalistas, proíbem que haja réplica. Ou seja: se o repórter perguntar sobre areia e o candidato falar sobre vestidos de noiva, encerra-se o assunto ali e pronto.
Isso em nada ajuda no debate das propostas, se é que elas, nestas eleições, existem. Quando os telejornais decidem interpelar os postulantes ao executivo, ainda que engessados pelo exíguo tempo destinado a cada um, de fato prestam um serviço à população. Nesta semana, pela ordem, Dilma Roussef e José Serra sentaram-se à bancada do Jornal Nacional. Respectivamente, deram 30 e 29 pontos de audiência média em São Paulo, quase dez vezes mais a média dos debates realizados neste segundo turno pela Band e Rede TV!
Infelizmente, porém, os temas se mantiveram: caso Erenice, polêmica sobre religião e aborto, caso Paulo Souza. Bonner até interpelou Serra sobre como, se eleito, ele cumprirá as promessas de aumento de salário mínimo, 13º para o Bolsa Família, reajuste para aposentados. Foi só. Nada de reforma política, reforma tributária, nem mecanismos de fomento de crescimento efetivo. Uma pena.
Dilma mostrou-se mais nervosa e pouco à vontade. Serra esteve mais à vontade. Experiência, até mesmo para falar à TV, faz muita diferença. O ideal, na minha modesta opinião, era que houvesse mais tempo para a entrevista, bem como a participação de outros jornalistas. Porque a gente até pode ser meio chato. Mas é nosso papel fazer as perguntas que os políticos, unanimemente, não gostariam de responder.