A adoção ainda é vista com preconceito por muitas pessoas e se torna mais difícil para crianças e adolescentes com deficiência. Em Londrina são 205 casais ou pessoas solteiras aptos a adotar uma criança, mas todos descartam a possibilidade de assumir alguém com deficiência ou com doenças crônicas.
Na Comarca de Londrina, há 47 crianças e adolescentes aptos para adoção inscritas no Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e na Comissão Estadual Judiciária de Adoção (CEJA-PR), dos quais oito têm necessidades especiais ou doenças crônicas, ou seja, 17%. A média é superior à registrada em todo o Brasil.
Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça(CNJ), divulgados em março, no CNA são 6.323 crianças e adolescentes registrados em todo o País, sendo que 793 têm deficiência mental ou física e 88 têm HIV, que já é considerada uma doença crônica, resultando em 13,93% do total. Por outro lado, há 34.809 pessoas com pretensão de adotar, mas destes 24.266 só aceitam crianças sem doenças ou deficiências, ou seja, quase 70% dos pretendentes.
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A idade das crianças e adolescentes com esse perfil e aptas a serem adotadas em Londrina varia entre 6 e 15 anos. O assunto foi tema de uma mesa redonda realizada recentemente no município, promovida pelo Núcleo de Apoio Especializado à Criança e ao Adolescente (NAE).
A juíza substituta da 1ª Vara da Infância e da Juventude da Comarca de Londrina, Isabele Papafanurakis Ferreira Noronha, destaca que é preciso dar a eles uma oportunidade de terem uma convivência com a família, direito que está assegurado pela Constituição. "Essas crianças têm crescido em abrigos. Embora os funcionários estejam lá para dar amor e carinho, eles não substituem a figura dos pais", expõe.
Os candidatos a pais devem estar cientes que para adotar uma criança com necessidades especiais terão de enfrentar dificuldades e isso exige muito amor e desprendimento. O casal Nanci e Geraldo Pelaquin possui a guarda de Luís Henrique desde os 11 anos de idade e este mês ele completou 18 anos.
Tudo começou quando a filha, uma fisioterapeuta, fazia aprimoramento no Hospital Pequeno Príncipe, em Curitiba. "Nós não pensávamos em adoção, mas nesse período Luís Henrique ficou três meses e meio internado e ela se encantou com esse menino. A minha filha soube que ele ia para um abrigo, já que a família não quis ficar com ele e assim começou a história", relata Nanci.
Luís Henrique possui uma doença degenerativa, mas sem diagnóstico fechado. "Fizemos coleta de material que foi analisado em Porto Alegre e na época as doenças de metabolismo foram descartadas. Em junho de 2012 levamos para São Paulo, mas não conseguimos progredir na investigação da doença", relata. "Embora a doença não afete a capacidade mental, ela afeta a coordenação motora e a parte respiratória. É como se ele tivesse paralisia. Ele não anda, não fala, e não tem o controle das necessidades fisiológicas", expõe Nanci.
PUBLICIZAR
"Não é uma decisão fácil, mas temos que publicizar que existem crianças especiais. O que a gente vê é que as pessoas nem cogitam a adoção delas, mas essa realidade existe e não podemos ser indiferentes a elas", ressalta a juíza.
Ela destaca que o papel do judiciário é fazer essa ligação entre o sonho dessas crianças com o desejo dos candidatos a pais adotivos. "É importante que exista esse debate. Quando se fala em adoção se pensa em bebê, mas não é só isso. É preciso a destituição do poder familiar, mas esse processo é litigioso e existe o contraditório", esclarece.
Com isso o processo pode levar anos e o bebê continuará crescendo no abrigo. Quando finalmente sai a decisão de destituição do poder familiar, muitos desistem da criança. "A adoção de uma criança ou adolescente com necessidades especiais pode trazer muitas alegrias, realização, e criar um vínculo forte de amor que antes não era imaginado", aponta.
Segundo Nanci, o relacionamento com Luís Henrique é o mesmo que possui com os dois filhos biológicos. "O vínculo vem e acontece de forma natural. Nós temos o mesmo amor com ele e com os nossos outros filhos. Filhos biológicos podem ter problemas de saúde e filhos de pais adotivos também, mas nos dois casos os pais fazem de tudo para superar as dificuldades", afirma. "Nossa família mudou bastante e para melhor. Não só a família, mas os amigos também, porque ele está sempre feliz e a gente aprende a dar valor ao que tem valor de fato."
Geraldo ressalta que aprende todos os dias com Luís Henrique. "As pessoas que não têm nenhuma das deficiências que ele possui ficam reclamando dos problemas da vida o tempo todo. Ele não, mostra todos os dias que é possível superar as dificuldades", enaltece.
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