A "Galinha Pintadinha" é o desenho favorito dos filhos dos leitores do Portal Bonde. Com 48 votos, 63% do total, os internautas indicaram a animação brasileira, na enquete lançada pelo jornal no Facebook. Em segundo lugar, com 28 votos (36%), ficou a britânica "Peppa Pig". A enquete, que durou 24 horas nesta semana, trazia a pergunta: "qual desses desenhos seu pequeno mais gosta?". As opções dadas foram "Galinha Pintadinha" e "Peppa Pig". Ao todo, 76 leitores votaram.
Em fevereiro, o canal da "Galinha Pintadinha" no Youtube chegou à marca de 30 vídeos com mais de 100 milhões de visualizações. A animação infantil quebrou recordes, com números melhores dos que os de Rihanna, Taylor Swift e Justin Bieber. Mais de 10 milhões de inscritos, com 7,8 bilhões de visualizações, com uma média de mais de 8 milhões de visualizações por dia. Um grande sucesso, que afeta principalmente crianças pequenas de até três anos.
Junto à "Galinha Pintadinha", está outro fenômeno: "Peppa Pig". O desenho infantil é transmitido para quase 200 países. No Brasil, vai ao ar no Discovery Kids. Em 2017, o canal foi o mais assistido entre os pagos no país, tendo Peppa como um dos destaques na programação. A animação chegou inclusive aos teatros, onde sempre realiza peças lotadas.
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Luísa Passos Faust, de 2 anos, é uma das "fãs" de Peppa, como conta sua mãe, Jéssica Passos da Silva. A pequena costuma assistir ao desenho quando chega da escolinha, mas não todos os dias. "Uma média de 40 minutos a uma hora, quando assiste", diz Jéssica.
Para a mãe, o desenho ajuda "em termos" no desenvolvimento de Luísa. "Ela observa bastante, gosta da música, repete algumas palavras, tenta imitar os sons." Mas nem tudo são flores. "A Peppa não é muito educada. Às vezes chama o pai de 'bobo', arrota na mesa enquanto almoça ou janta."
O desenho "ajuda muito" quando Jéssica precisa cuidar sozinha da filha. "Principalmente quando ela está com sono", afirma. "Quando quer dormir, a Luísa já pede para colocar a Peppa. Às vezes colocamos outros desenhos para que ela conheça coisas diferentes, mas ela não aceita."
A psicopedagoga e fonoaudióloga Lívia Fortes ressalta que, até os dois anos e meio de idade, as crianças não deveriam ter contato com telas. "É um momento em que a criança deve ter contato sensorial. Vivenciar o próprio corpo no chão, com outras pessoas, no sofá. Além de que, do ponto de vista oftalmológico, os sistemas protetivos das pupilas ainda não estão prontos para proteger a visão da luz das televisões e tablets."
Além disso, "a criança precisa ver como a boca funciona", diz Lívia. "Nesses desenhos não exista essa articulação, de como é o som correto da língua. É preciso vivenciar isso com outro ser humano", completa.
A partir dos três anos, quando a criança já entende alguns conceitos, ela pode assistir a vários desenhos, segundo a psicopedagoga, mas sempre mediados por algum adulto. "Os adultos precisam entender que são responsáveis pela transmissão cultural e educacional da sociedade para a criança que está sob os seus cuidados."
"Na Peppa, por exemplo, existe uma representação familiar, mas distorcida. O pai é atrapalhado, sempre faz coisas erradas; a mãe é mandona; e a criança – a Peppa – é uma tirana, dá lições de moral nos pais e quer tudo do jeito dela", diz Lívia. "É importante que a criança tenha alguém com mais autoridade para entender as regras, o certo e o errado."
Para ela, não é errado assistir à Peppa Pig, mas é preciso que um adulto esteja ali, mediando e explicando como as coisas funcionam.
"De maneira geral, todos os desenhos podem ser prejudiciais e muitos podem ser bons, mas isso depende da quantidade e da supervisão. É preciso mais relações humanas do que com a televisão", diz Lívia.
Segundo a psicopedagoga, a televisão, os tablets e os celulares estão funcionando como babás eletrônicas. "A criança vai comer vendo desenho, para não reclamar da comida, já que nem sabe o que está comendo. Vai ver TV pra não questionar, para ficar quieta. Vai para o quarto, não precisa fazer dormir, perguntar como foi o dia, contar histórias. Tudo muito robotizado."
Lívia recomenda que, ao assistir TV, as crianças fiquem no máximo 50 minutos. A psicopedagoga também recomenda que os pais incentivem os filhos a fazerem coisas diferentes, mesmo que seja assistir a outro desenho, ir ao cinema, ao teatro, ao parque.