O comportamento atual do maquiador Diego Ramos Quirino nada se parece com aquele do dia 3 de agosto de 2013, conforme conta o advogado do acusado, Fabricio Almeida Carraro. Nesta data Quirino foi autor de uma chacina que chocou Londrina. Depois de matar a própria mãe, Ariadne Benck dos Anjos e atentar contra a vida da companheira, o maquiador invadiu a casa vizinha e assassinou a facadas Vilma Santos de Oliveira, conhecida como Yá Mukumby; sua mãe, Allial de Oliveira; e a neta, Olívia Santos de Oliveira.
Em entrevista ao Portal Bonde, o advogado, que atua na defesa de Quirino juntamente com a advogada Natália Regina Karolenksky, disse que o maquiador segue preso na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL II) e que se mostra sensível quando fala do crime. "Hoje ele tem noção do que aconteceu. Quando lembra fica realmente muito triste e muito abalado. Ele chora e se desespera", comentou Carraro.
Ainda assim, segundo o advogado, Quirino é confuso quando fala dos homicídios e reitera a versão que deu anteriormente à polícia. "É confusa a forma como ele avalia a situação. Ele diz que no dia ele ouvia vozes e que depois de um tempo as vozes o deixaram em paz".
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Nos quase cinco meses em que está na prisão, Diego Ramos Quirino tem recebido visitas de familiares. De acordo com Carraro, mesmo tendo assassinado a própria mãe, o maquiador tem o apoio da família. "A tragédia atingiu os familiares dele também". Ainda conforme a defesa, Quirino não tinha passagens e nem histórico de violência, o que leva a crer na hipótese de um surto. "Ele não parece ser um monstro que agiu friamente. Aparentemente foi uma questão médica, psiquiátrica mesmo".
Surto
Para o delegado William Douglas Soares não há dúvidas que Diego Ramos Quirino "agiu num surto psicótico". "Ele não nega os fatos. Ele afirma ter agido tomado por espíritos do mal e que as vítimas eram hostes espirituais da maldade".
Douglas estava de plantão na delegacia quando o crime aconteceu e Quirino foi preso. "Ele chegou todo sujo de sangue com uma calça de moletom larga emprestada de alguém. Ainda tentei informalmente conversar com ele, mas a única coisa que ele conseguiu falar foi seu nome". O delegado classifica a chacina daquele dia como "a mais estarrecedora" que ele já presenciou. "Pela violência do crime, a quantidade de vítimas e por ter criança pequena envolvida".
O advogado do acusado, Fabricio Almeida Carraro, disse que o maquiador não teve mais episódios dentro do presídio. A reportagem entrou em contato com a diretoria da PEL II, que informou que Quirino tem uma rotina normal na prisão e que não há relatos de problemas envolvendo o detento.
Para a defesa de Quirino aparentemente somente o surto justificaria a chacina. Porém, os advogados explicam que apenas um exame específico pode constatar, com certeza, qual era a real situação do maquiador no dia da tragédia. O exame de sanidade mental de Quirino está pendente no Instituto Médico-Legal (IML) devido a falta de documentos que ainda precisam ser anexados ao processo.
"No início do processo quando o Ministério Público ofereceu a denúncia foi solicitado esse exame para averiguar a sanidade mental do Diego, justamente pelas circunstâncias em que ocorreu o crime", explicou Carraro. Para o advogado, o resultado desse laudo, que vai constatar a capacidade de discernimento de Quirino à época do crime, é fundamental para o andamento do processo. É partir disso que tanto defesa, quanto acusação vão se basear. "Queremos o resultado desse exame o mais rápido possível".
Processo
Enquanto o resultado do exame de Quirino não sai, o processo contra o acusado segue ouvindo testemunhas. Segundo o advogado Fabricio Almeida Carraro, duas audiências já foram realizadas em Londrina. Uma terceira foi marcada para dezembro em Cambé, mas acabou sendo adiada por falta de promotor. Outras pessoas devem ser ouvidas em Londrina e a ex-companheira de Quirino deve prestar depoimento em São Paulo.
Segundo o advogado de Quirino, o processo contra o maquiador é atípico. "Não há uma disputa entre defesa e acusação. Ambas as partes querem entender o que ocorreu no dia do crime para confortar as famílias envolvidas", comentou.
Carraro também classifica a situação de Quirino como "complicada". Caso seja comprovada a insanidade mental do acusado, ele pode ser transferido para o Complexo Médico-Penal do Paraná, antigo Manicômio Judiciário, para receber tratamento. "As vezes a pessoa ficar internada é até pior do que ficar presa. Os próprios detentos não querem ir para lá", explicou.
Intolerância religiosa
A reportagem do Portal Bonde entrou em contato com o promotor Thadeu Augimeri de Goes Lima. Ele é o autor de uma das denúncias contra o maquiador pelos quatro homicídios. Na ação, Augimeri divide os atos. Na primeira parte, o promotor relata o homicídio da mãe e a tentativa contra a companheira.
Na segunda, ele aborda a morte das três pessoas na casa vizinha. Augimeri enfatiza que os crimes foram cometidos "por motivo torpe, impelido por fanatismo religioso cristão e intolerância relativamente a crenças diferentes". Ele destaca que as vítimas eram notórias adeptas do Candomblé.
O promotor foi transferido durante este mês para Rolândia e não deu detalhes sobre a ação. A assessoria de imprensa do Ministério Público disse que um novo promotor deve ser designado para acompanhar o processo e que não havia nenhuma novidade no caso desde a conclusão da ação.
Se para o promotor houve intolerância religiosa nos crimes, o delegado William Douglas, responsável pelo inquérito contra o maquiador, não tem a mesma opinião. Douglas disse que durante o inquérito não identificou nenhum elemento que pudesse levar a isso. O delegado confirmou que dentro da casa diversas imagens estavam quebradas, mas ele apontou isso como sendo da violência da cena do crime. Ele citou alguns elementos para confirmar que não houve intolerância. "Ele matou a mãe e tentou matar a própria companheira".
Douglas relembrou os fatos dos dias e afirmou que a tragédia poderia ter acontecido horas antes em Cambé, quando armado de uma faca o maquiador investiu contra amigos, mas foi imobilizado, e também poderia ter sido maior. "A companheira buscou refúgio onde tinha muita gente que conseguiu deter ele. Se fossem mais pessoas indefesas não tenho dúvidas que ele teria matado quem aparecesse pela frente".
O advogado de Quirino também não acredita na hipótese de intolerância religiosa. "Ele chegou a ameaçar os colegas antes do crime, o que não tem relação com a questão religiosa. Além disso, acabou matando a própria mãe que era evangélica. O que nos parece é que essa questão não tem relação com o fato em si", comentou Fabricio Carraro.