O Real rompeu seu suporte mais firme: R$ 2,27/US$ (R$ 2,267/US$) e pode atingir o alvo de R$ 2,20/US$ ainda em outubro. Se esse suporte também for rompido, não há hoje fatores que o impeçam de seguir sua trajetória de valorização até atingir os R$ 2,10/US$!
Um fator relevante para que a taxa de câmbio não continue na sua atual derrocada é o retorno do Banco Central no mercado de divisas (na ponta comprada). A última vez que o BC atuou comprando no mercado cambial foi dia 11 de agosto, mesmo dia em que houve o depoimento de Duda Mendonça na CPI dos Correios e que ajudou impulsionar o Dólar frente ao Real.
Sendo a taxa de câmbio um preço, portanto seu valor depende da relação entre oferta e demanda, o grande volume de divisas que entram no país, tanto via financeira quanto via comercial, tem colaborado cada vez mais para ampliar a valorização do Real frente ao Dólar.
No que diz respeito ao setor financeiro, o fenômeno de entrada de recursos em grandes vultos está diretamente relacionado ao diferencial absurdo existente entre as taxas de juros reais oferecidas no Brasil (13%) com o atual patamar do risco país (362) e que não há paralelo em nenhum outro mercado no mundo! Neste sentido, se não há atratividade por investimentos em renda fixa nas economias centrais, dado o baixo nível da taxa de juros, e o FED/Fomc já sinalizou que continuará com seu "ritmo comedido", a farta liquidez internacional continuará fomentando os ativos financeiros brasileiros: alta dos papéis da dívida externa, valorização da moeda, alta da bolsa de valores (que deve atingir os 35 mil pontos em breve), além da queda significativa e consistente do risco país.
Já com relação ao fator comercial, maior entrada de recursos tem como fator principal o forte crescimento mundial dos últimos anos, e que deve continuar robusto em 2006. Além disso, há também a ampliação do número de parceiros comerciais, que resulta em maior volume exportado, e o aumento dos preços dos produtos enviados ao exterior, principalmente as commodities agrícolas. As perspectivas para a balança comercial brasileira para 2006 são muito positivas, apesar de prevermos um número menor que em 2005 (US$ 36,5 bilhões contra US$ 42,3 bilhões).
No último dia 21, o Fundo Monetário Internacional divulgou seu tradicional relatório: World Economic Outlook (WEO), que faz uma exposição das expectativas para a economia de 180 países e projeções para a taxa de crescimento do PIB para 2005 e 2006. O Fundo revisou marginalmente a expectativa de crescimento mundial para 2006, passando de 4,4% para atuais 4,3%. Para o ano de 2005, projeção ficou estável em 4,3%.
A taxa média de crescimento dos 10 principais parceiros comerciais do Brasil, que representam 57,4% da pauta de exportação, ficou praticamente estável entre o relatório do FMI publicado em abril e o atual (3,74% e 3,69%, respectivamente). Ou seja, visto que o crescimento mundial está sustentando em grande parte as exportações brasileiras, mesmo diante de uma taxa de câmbio significativamente valorizada, pelos dados relacionados no quadro abaixo é difícil de enxergar um recuo acentuado do saldo comercial a ponto de gerar alguma desvalorização do Real. E pelo lado das importações, o baixo nível de renda, além das elevadas tarifas de importação tem mantido o consumo de importados em crescimento moderado, portanto, não é um fator de preocupação para o médio prazo.