O recém-formado Fórum contra a Poluição - que reúne entidades ambientalistas, sindicatos, associações de moradores, grupos de escoteiros e setores da igreja de Curitiba e Araucária (Região Metropolitana) - está colocando nas ruas uma campanha para arrecadar R$ 12,2 mil. Este é o valor necessário para a contratação de uma auditoria feita por técnicos da Universidade de Campinas (Unicamp) para analisar o impacto ambiental com a instalação de uma usina termelétrica movida a óleo, no município de Araucária.
A usina, chamada de Conversão de Fertilizantes e Energia do Paraná (Cofepar) é um empreendimento conjunto da Petrobras, Ultrafértil e a empresa norte-americana Public Service Enterprise Group (PSEG), que pretendem iniciar a obra em junho deste ano. A idéia vem sendo rechaçada por setores da sociedade que, desde o anúncio da obra vêm realizando reuniões com as promotorias do Meio Ambiente e do Trabalho de Araucária, nas quais não descartam um pedido para impedir o funcionamento da usina.
A idéia de arrecadar dinheiro entre a população para fazer uma auditoria independente, de acordo com a presidente da Associação de Defesa do Meio Ambiente de Araucária, Lídia Lucaski, nasceu depois que a Cofepar se negou a aceitar que técnicos especializados de outros estados analisassem os Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA-Rima) feitos pelo grupo. "Eles só aceitaram fazer uma auditoria se fosse por pessoas conhecidas daqui do Paraná. Mas aí nós não aceitamos porque deixaria de ser uma auditoria independente", diz Lídia.
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Todas as entidades pertencentes ao Fórum estão trabalhando na coleta do dinheiro em escolas, associações, estabelecimentos comerciais entre outros setores. A partir deste final de semana também será montada uma barraca na praça em frente à igreja matriz para arrecadar recursos. Outra iniciativa do Fórum será realizar um seminário, dia 21 de abril, na sala paroquial da igreja, convocando toda população para participar de painéis sobre riscos de poluição e degradação da qualidade de vida com a termelétrica.
Apesar dos diretores das empresas preverem investimento de US$ 600 milhões na obra, qualquer definição sobre sua instalação ainda depende da autorização do Instituto Ambiental do Paraná (IAP). Está marcada para 3 de maio a audiência pública que decidirá pela concessão ou não da licença para a Cofepar. Segundo o responsável pela área de licenciamento do IAP, Pedro Dias, o órgão optou por o que ele chama de "licenciamento participativo". Ou seja, o IAP tem realizado reuniões com diversos setores, como universidades, técnicos, Organizações Não Governamentais (ONGs) para chegar a uma conclusão técnica sobre o funcionamento da usina. Esta audiência deveria ter ocorrido em 19 de março, mas foi suspensa pelo IAP, na época do acidente com o oleoduto da Petrobras na Serra do Mar.
Impacto
A Cofepar seria a primeira usina termelétrica no Brasil a usar óleo combustível com capacidade para reconversão de gases em fertilizante agrícola. Com previsão de iniciar as atividades em 2003, a usina teria a capacidade de gerar 650 megawatts, o suficiente, segundo as empresas, para atender uma população entre 600 mil a 1 milhão de pessoas.
Outra vantagem apontada pela Cofepar é que a unidade produzirá 100 mil toneladas de sulfato de amônia por ano, o equivalente a um terço do consumo de amônia no Paraná. Atualmente, o Estado importa todo o sulfato de amônia que utiliza em forma de fertilizante agrícola. Toda amônia a ser usada no processo de reconversão das emissões em sulfato de amônia será produzida pela Ultrafértil. A previsão é que a termelétrica utilize 25 mil toneladas de amônia por ano, que seriam transformadas em cerca de 100 mil toneladas de sulfato de amônia.
O Fórum contra a Poluição rebate essas vantagens. "O projeto da termelétrica mostra uma chaminé de 100 metros de altura por 20 metros de diâmetro. Quer dizer, se ela não vai poluir, porque tem uma chaminé deste tamanho?", questiona Lídia Lucaski. Analisando os Estudos e Relatórios de Impacto Ambiental (EIA-Rima) feitos pelas empresas, os ambientalistas ressaltam que a Cofepar usará 3,5 mil toneladas/dia de resíduo asfáltico e éleo combustível produzidos pela Petrobras, lançando na atmosfera cerca de 44 toneladas por dia de poluentes particulados e gases altamente tóxicos. além de 380 quilos de amônia.
Outra conclusão do Fórum é que a usina gerará mensalmente 141 toneladas de resíduos tóxicos da Classe 1 (os mais perigosos, segundo as leis brasileiras), dos quais apenas 66 toneladas serão retidos pelos filtros, liberando na atmosfera 75 toneladas de particulados extremamente perigosos para a saúde humana. "Araucária já deu sua quota de sacrifício e não pode se tornar em uma nova Cubatão", diz Lídia.
Os ambientalistas também preocupam-se com o grande volume de água a ser utilizado. Para operar a termelétrica, serão retirados 31,5 milhões de litros de água por dia da represa do Rio Verde, quantidade suficiente para abastecer uma população de 340 mil pessoas por dia.