Os deputados estaduais que integram a Comissão de Investigação (CEI) da Sanepar saíram convencidos, da vistoria feita nos sistemas de coleta de esgoto que ficam ao redor da Barragem do Iraí, de que a Sanepar não realizou todas as obras necessárias para saneamento e limpeza da área antes da construção da barragem e formação do lago do rio Iraí.
A CEI da Assembléia Legislativa foi criada para investigar a qualidade da água distribuída a Curitiba e Região Metropolitana, em especial o sistema do Iraí -responsável por 70% do abastecimento de Curitiba e região metropolitana.
"É aquela velha história que diz que a pressa é inimiga da perfeição", disse o deputado Algacy Tulio (PTB), que não faz parte da CEI, mas participou da vistoria. Para o deputado Neivo Beraldin (PSDB), presidente da CEI, os problemas detectados na barragem, como o crescimento exagerado de algas - causa do mau cheiro e coloração - e o aparecimento de lixo ao redor do lago só estão acontecendo porque a empresa deixou de fazer ações básicas antes da construção da barragem.
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Na vistoria, os deputados não constataram nenhum problema aparente. O primeiro local visitado foi o Hospital Adalto Botelho. Em julho, o deputado Beraldin encontrou lixo hospitalar jogado às margens da barragem. Nesta sexta-feira, no local havia cerca de 12 sacos com lixo doméstico, que vem sendo catado pela Polícia Florestal como parte de um pacote de medidas para melhoria da água implantadas pela Sanepar.
O hospital tem estação própria para tratamento de esgoto. O efluente tratado que antes era jogado no rio Iraí, segundo a Sanepar, está sendo revertido para que, até o final do ano, seja encaminhado totalmente para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Menino Deus.
A principal crítica dos deputados refere-se à não implantação de rede coletora de esgoto em todo entorno da barragem, o que levou ao despejo de efluentes domésticos no lago. Outro problema, segundo Beraldin, foi a limpeza do terreno, que além de não fazer o manejo do solo e retirar a vegetação local antes de encher o lago, também não retirou todo o lixo existente às margens da barragem.
"Nós sabíamos que era uma obra que precisava de cuidados especiais, porque o lago ía ser raso, o que contribuiria para a proliferação de algas, levando a mau cheiro e gosto ruim", disse o diretor de negócio da empresa, Lauro Klass, que prestou depoimento à CEI no último dia 12. Ele acredita, no entanto, que a Sanepar fez "pelo menos 90% do que deveria ter sido feito para prevenir possíveis problemas".
Segundo ele, antes de construir a barragem, a Sanepar consultou órgãos ambientais, retirou a cobertura florestal, removeu sete lixões encontrados na área, fez análises do solo posteriormente e não constatou problemas. A empresa também aplicou na construção de sistemas de coleta de esgoto. Ainda assim, dos 4,5 mil ligações existentes no entorno da barragem, eles calculam que 40% sejam irregulares.
Os deputados questionaram, ainda, o destino dos R$ 15,5 milhões gastos na construção da barragem. Segundo Lauro Klass, a Sanepar pagou R$ 255 mil para derrubar a mata da área e R$ 55 mil para limpeza dos aterros instalados na região. Também foram pagos outros R$ 350 mil para construção de seis casas e a colocação das cercas. Foram gastos, ainda, mais R$ 18 milhões na implantação do sistema de coleta e tratamento de dejetos.