O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou na sexta-feira (30) que escutas telefônicas provam que presos do Presídio Federal de Catanduvas, no Paraná, usam parentes para repassar ordens aos comparsas. A revelação ocorreu após a operação "Família S.A." da Polícia Civil que prendeu 23 pessoas ligadas ao traficante Isaías da Costa Rodrigues, o Isaías do Borel, um dos chefes do Comando Vermelho. O secretário disse que a operação "quebrou paradigmas" e que atacará a "estrutura financeira dos líderes da quadrilha".
"De maneira confortável dentro dos presídios, eles passam aos familiares ordens para que os subordinados cometam crimes no Rio. De agora em diante, aqueles que empreendem ações criminosas no Rio terão suas famílias investigadas e presas", afirmou Beltrame. O Ministério da Justiça informou que vai averiguar a denúncia. De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional, apenas durante a visita íntima os presos não são monitorados pelos agentes.
As investigações dos familiares de Isaías do Borel começaram em fevereiro de 2008. No mês seguinte, os policiais da 19ª Delegacia de Polícia da Tijuca (zona norte) conseguiram autorização judicial para as interceptações telefônicas e depois iniciaram várias operações nas favelas do Borel, Turano e Formiga, que seriam comandadas por Isaías e comparsas do Comando Vermelho.
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A mulher de Isaías, Silvia Regina Rosário Rodrigues, e a irmã do traficante Emília da Costa Rodrigues, foram flagradas dando ordens a traficantes e dizendo que elas eram orientações do detento repassadas em Catanduvas. "As interceptações mostram a mulher e a irmã passando os recados aos traficantes e afirmando categoricamente que eram ordens colhidas no presidiário. Não há dúvidas da participação de Isaías. Houve apenas uma mudança na forma de comunicação. Ao invés de telefones, ele usou os familiares", disse o delegado titular da 19ª DP, Luis Claudio Cruz.
O delegado afirma que a quadrilha funcionava como uma "empresa familiar". "Após ser preso, Isaías escolheu o sobrinho (William Rodrigues Vieira, o Robocop, preso em agosto) para substituí-lo. Outros parentes atuavam como laranjas. Muitos nunca trabalharam e não tem condições de explicar o patrimônio", declarou Cruz. A mulher de Robcop, Flávia Santos Oliveira, também foi presa hoje. A Justiça determinou o sequestro de um imóvel avaliado em R$ 150 mil na Rua Conde de Bonfim, na Tijuca (zona norte), onde morava a família de Isaías. A polícia apreendeu três carros, quatro telefones celulares, dois computadores, uma filmadora, documentos, joias, relógios, R$ 5 mil e uma pequena quantia em euros.
Os investigadores pretendem focar agora nos negócios dos traficantes, que seria dono de uma frota de vans para transporte alternativo nas imediações do Borel. "O patrimônio dele é muito maior do que o apurado até agora", avaliou, que não soube afirmar o faturamento da quadrilha. Os presos e Isaías foram indiciados por tráfico, associação para o tráfico, financiamento de práticas ilícitas e formação de quadrilha. O secretário de Segurança Pública do Rio disse que o novo indiciamento impede que o presidiário obtenha o benefício da progressão ao regime semiaberto que ele estava prestes a conseguir.
Além de Isaías, várias lideranças do Comando Vermelho podem obter a progressão de regime até o final do ano, entre eles Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP. A operação no Morro do Borel mobilizou 200 homens de diversas delegacias especializadas com o apoio da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). Além dos mandados de prisão, Roberto Carlos Pires Cordeiro foi preso por porte de arma. Ele tinha um mandado de prisão por homicídio. Não houve troca de tiros entre policiais e traficantes. O atual chefe do tráfico no Borel, Moisés Timóteo da Silva Lisboa, não foi encontrado.