"Foi a demonstração de um absolutismo que custou muito caro ao Paraná. Fomos feridos na carne e na alma", resume a professora Margarete Bellini, que estava no Centro Cívico durante o enfrentamento entre professores e policiais militares no dia 29 de abril do ano passado. A professora de Londrina e outros milhares de servidores da educação aguardavam a votação, na Assembleia Legislativa, do projeto de lei que alterou as regras da Paranaprevidência.
Margarete, que ensina ciências e matemática, conta que esteve em uma "verdadeira praça de guerra". "Havia policiais por todos os lados. Perto da hora da votação, começaram a lançar bombas de gás lacrimogênio. Os policiais nos cercaram e vieram para cima, mas nos mantivemos firmes. As bombas vinham dos que estavam no chão e até do helicóptero", lembra a educadora, que atua na rede estadual há mais de 20 anos.
A Prefeitura de Curitiba encerrou o expediente no final da manhã e só reabriu as portas durante a tarde, para auxiliar no atendimento aos feridos. "O gás é muito forte, queima os olhos, tranca a garganta... É horrível. Tive muita dificuldade para respirar. Por causa do gás, fiquei uns dois dias com irritação na pele. Eu corri para perto da prefeitura e os próprios servidores de lá estavam fazendo a triagem dos feridos. Vi colegas levando golpes de cassetete... Foi desolador", lamenta. No final do dia, o grupo retornou a Londrina. "Aquilo tudo foi um exagero, foi humilhante, foi de extrema violência e muito retrógrado. Ainda assim, voltamos para casa com a sensação de dever cumprido", garante.
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A professora Elaine Antunes, de Santo Antônio da Platina (Norte Pioneiro), ainda carrega as marcas da batalha. Uma bala de borracha a atingiu no braço, rasgou o supercílio e passou de raspão pela cabeça. "A manifestação estava muito tranquila. Nós estávamos dizendo palavras de ordem. De repente, a polícia abriu o cerco de isolamento e a tropa de choque, que estava atrás, chegou para atirar. Eu jamais achei que haveria isso", diz ela, que estava a quatro metros dos policiais. Uma bomba de efeito moral ainda caiu perto dela. "Precisei de quatro pontos no supercílio para fechar o corte que ficou. A sobrancelha não cresceu mais e tive que fazer um procedimento estético. A bala chegou a arrancar um pouco do cabelo e tive rebaixamento de audição durante quase três meses. Uma amiga teve perfuração no tímpano. Nem os enfermeiros no hospital entendiam o que estava acontecendo por causa do número de feridos que chegavam a todo instante", relata.
Elaine acionou promotores de Santo Antônio da Platina e abriu um processo contra o governo do Estado. Mesmo com as cenas do conflito na memória, a professora do curso de formação de docentes (antigo magistério) garante que nunca cogitou abandonar a profissão. "Foi muito triste ver a forma como os professores foram tratados. Tive que tomar remédios por alguns dias para conseguir dormir. Digo para minhas alunas: ‘Infelizmente, vocês vão enfrentar um governo que não valoriza os profissionais, que não incentiva e não dá condições para que vocês sejam boas profissionais’. Emocionalmente, foi muito complicado, mas esse episódio me fortaleceu ainda mais. A gente não pode parar de lutar pelo que acredita", enfatiza.