Duas freiras de Ponta Grossa são acusadas do crime de tortura, ocorrido até 2011, contra pelo menos quatro crianças que estavam em um abrigo da cidade dos Campos Gerais. Uma delas teria praticado agressões contra as crianças, que pertenciam a famílias desestruturadas e estavam temporariamente na entidade. A outra teria se omitido sobre os casos.
As freiras seriam de uma congregação de irmãs franciscanas e receberiam recursos vindos da Itália para manter o abrigo. O delegado do 2° Distrito Policial de Ponta Grossa, Marcus Vinícius Sebastião, que conduziu as investigações desde 2011, explica que a denúncia partiu de uma advogada que entregou documentos e cartas a Promotoria de Justiça do Ministério Público com a denúncia de agressão contra crianças no abrigo por parte de uma das freiras. Ainda não se sabe desde quando as agressões ocorriam.
O caso foi repassado para a Polícia Civil e em maio daquele ano o delegado instaurou o inquérito. Ex-funcionários da instituição, que não tinham coragem de denunciar o caso, escreveram cartas e mandaram documentos que apontavam indícios de tortura. "Eles demoraram para denunciar por medo de represálias", diz o delegado.
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Denúncias - Em um dos documentos, com fotos, mostra marcas de agressão em crianças de menos de dois anos de idade. O delegado teve dificuldades para encontrar as crianças que supostamente sofreram tortura por causa das mudanças de endereços das famílias. "Um vídeo mostra uma das meninas ouvidas, que tinha cinco anos na época, que foi trancada em um banheiro de castigo e estava com lesão no olho", conta Sebastião.
O delegado acredita que a freira tenha tomado tal atitude para esconder a agressão até que a marca sumisse. O vídeo foi feito por uma das funcionárias, que não aguentou ouvir a criança chorar e a tirou do banheiro, segundo Sebastião. A menina ouvida, segundo o delegado, confirmou as agressões. "Ela disse que não se lembra de muitas coisas, mas ainda demonstra medo quando ouve falar da freira".
As dificuldades de encontrar ex-funcionários e crianças que foram abrigadas na instituição fez com que o inquérito se arrastasse por mais de dois anos. Cerca de 20 a 25 pessoas foram ouvidas. A freira suspeita de praticar as agressões negou as acusações e disse, segundo o delegado, que isso seria um complô dos funcionários por ela ser muito rígida com eles e com as crianças. "Ela deu respostas bastante evasivas. Eu como delegado estou convencido que houve crime de tortura", diz.
Possível condenação - o inquérito foi encaminhado para a 4ª Vara Criminal e para o Ministério Público. Caso a Justiça acate o caso elas serão denunciadas por tortura e um julgamento será instaurado. Se a freira que é acusada de praticar as agressões for condenada, poderá pegar de dois a oito anos de prisão, com adicional de mais um sexto na pena, por se tratar de um caso que envolve crianças. A outra irmã, por conta da omissão, poderá ficar presa de um a quatro anos.
As freiras permanecem em liberdade. O delegado explica que, como elas não representavam risco para o andamento da investigação, não foi necessário uma prisão temporária. Quando o inquérito foi instaurado, em 2011, elas foram afastadas da instituição.