O governo do Estado não admite, mas entre os agentes penintenciários é certo que o Primeiro Comando da Capital (PCC) domina os principais presídios do Paraná. De acordo com os agentes, a Penitenciária Central do Estado (PCE), em Piraquara, a Prisão Provisória de Curitiba, no bairro do Ahú, e as prisões de Maringá e Londrina contam hoje com membros dessa organização criminosa.
Foram integrantes do PCC (que surgiu em 1993, no presídio paulista de Taubaté -leia matéria nesta página) os responsáveis pelas duas maiores rebeliões da história do sistema prisional do Estado. As duas, uma que terminou na última terça-feira e outra no ano passado, aconteceram na PCE.
No entanto, o coordenador do Departamento Penitenciário (Depen), Pedro Marcondes, considera que existe muita fantasia quanto ao PCC - que também é conhecido como Partido. "Antes era o Comando Vermelho, agora a grife é o PCC", complementou o secretário de Segurança Pública do Estado, José Tavares. Para o secretário, muitos presos dizem ser da organização como forma de se impor dentro da cadeia. "Para mim, não importa a sigla, porque o governo está evitando a ação das organizações criminosas", ressaltou Tavares.
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Porém, um panfleto com o estatuto do PCC, que foi aprendido no Ahú em 1999, mostra que o governo não vem sendo eficiente para impedir a expansão da organização criminosa. O panfleto descreve as regras do Primeiro Comando do Paraná (PCP), que seria o braço regional do PCC no Estado. Na época, lembra Sandra Duarte, do Sindicato dos Servidores Penintenciários, a categoria denunciou isso à coordenação do Depen. O governo chegou até a investigar o material. Mas não se descobriu nada sobre o assunto.
Os erros de avalição do governo quanto ao PCC têm sido sucessivos. A primeira falha foi aceitar os líderes do Partido - José Márcio Felício, o Geléia ou Geleião; Misael Aparecido da Silva; e César Augusto Roriz, o Cesinha. A transferência aconteceu em 1998. Quando foram transferidos, alguns dos líderes chegaram sem suas fichas criminais ou estavam com a documentação incompleta.
Sem conhecimento da periculosidade dos presos, o governo estadual acabou, direta ou indiretamente, permitindo que o PCC promovesse "batismos" dentro das prisões. Hoje não existem estimativas para saber quantos presos receberam o batismo.
Porém, o advogado do Geléia, Jerônimo Ruiz Andrade do Amaral, estima que é grande a presença do Partido no Estado. Amaral prefere não abrir quantos detentos no Paraná podem ser integrantes do movimento. Porém, somente no Ahú estimasse em 130 internos. Na PCE, os agentes penintenciários trabalham com o número de 250 detentos. O advogado contou que é de praxe na organização criminosa ajudar quem está fora ou dentro das prisões. Essa é uma das regras do Estatuto. Quem não obedece é punido com a morte.
Em São Paulo, a organização custeia até bolsa de estudos para familiares formarem jovens como advogados, para que defendam os líderes da corporação. No Paraná, já há distribuição de cesta básica. "Eles ajudam a gente, quando está no aperto", afirmou a mulher de um preso, que estava em frente da PCE durante a rebelião e prefere não se identificar.
Para poder custear essas ajudas, o PCC treina seus integrantes para ações limites como sequestros ou grandes assaltos, como o de carros-fortes. No começo do ano, quando foi realizado o assalto a empresa de valores Proforte, de onde se levaram mais de R$ 6 milhões, o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) não descartou a possibilidade de haver integrantes do PCC no roubo. Do resultado de cada ação criminosa, entre 20% a 30% são destinados ao PCC.
Em São Paulo, a Promotoria de Investigações Criminais está investigando diversas contas que poderiam ser de integrantes do Partido. Juntas elas somam, R$ 80 milhões. No Paraná, informações detalhadas sobre o assunto começam a ser investigadas somente agora pelo governo e órgãos do judiciário. A Procuradoria Geral da Justiça enviou representante para São Paulo atrás de informações sobre o assunto. Já o secretário José Tavares disse que vai tomar ações para evitar a ação do PCC no Paraná. Uma delas é monitorar os líderes que surgem dentro das cadeias. Após descobrir essas pessoas, a intenção do governo é transferí-los para outras unidades.
No entanto, o presidente do Sindicato dos Agentes Penintenciários, Carlos Alberto Pacheco, alerta que foi assim que o PCC ganhou corpo em São Paulo. Após diversas transferências, o Partido foi capaz de realizar uma megarebelião, que resultou em motins simultâneos em 32 presídios paulistas.