Em meio ao impasse entre Prefeitura de Curitiba e governo do Estado em relação ao repasse de recursos para manter o funcionamento da Rede Integrada de Transporte (RIT), aproximadamente 2,3 milhões de pessoas começaram a semana tendo que improvisar para conseguir se deslocar em Curitiba e Região Metropolitana. A greve que vinha sendo anunciada desde a semana passada teve início nesta segunda (26) e causou transtornos, gerando uma série de reclamações da população.
Nenhum dos 1.945 veículos que compõem a Rede Integrada de Transporte (RIT) deixou as garagens das empresas, afetando 356 linhas de ônibus. Muitos trabalhadores tiveram que faltar ao trabalho porque não conseguiram chegar a tempo, e outras pessoas que tinham exames em hospitais, por exemplo, terão que remarcar suas consultas. Sem a circulação dos ônibus, milhares de carros voltaram às ruas, causando congestionamento principalmente na região central da capital.
Na tentativa de evitar um caos ainda maior, a Urbanização de Curitiba (Urbs), que administra o transporte coletivo, acabou cadastrando 112 veículos da Prefeitura para deslocar alguns passageiros. Eles fizeram o percurso tradicional das linhas de ônibus, sem custo à população. Mas, além disso, o órgão abriu o cadastramento de veículos particulares para oferta de transporte alternativo. Os motoristas interessados foram autorizados a cobrar R$ 6,00 por passageiro.
Leia mais:
Prefeitura de Rolândia alerta população sobre golpe do 'falso pedido de ajuda'
No Paraná, consultas públicas do programa Parceiro da Escola começam nesta sexta
Pastor pede reconhecimento de vínculo trabalhista com igreja, mas Justiça do PR nega
Unespar aplica provas do vestibular neste domingo
"Consegui uma carona para vir até o Bigorrilho, mas para voltar ao Pinheirinho, onde moro, vou ter que pegar uma condução e desembolsar R$ 6,00. Tenho que tomar conta de duas idosas, de 94 e 60 anos, elas precisam de mim", ressaltou a cuidadora Mara Pereira, de 55 anos. Para ela, o grande problema da paralisação é afetar todos os trabalhadores. "Todo mundo precisa chegar até seu trabalho e a greve, mesmo sendo válida, atrapalha muita gente", completou.
Dinorah dos Santos, de 66 anos, é babá e mora em Campo Largo. Já tinha desembolsado R$ 6,00 para pegar uma condução até seu trabalho, no Bigorrilho, e teria que pagar novamente para voltar pra casa. "Ninguém vai trabalhar sem receber o que é de direito, então entendo que os motoristas e cobradores estão certos. Mas isso tudo acaba atrapalhando a rotina de todo mundo", apontou.
Após uma audiência foi realizada na tarde de segunda, no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) na capital, ficou determinado o retorno de 50% da frota a partir da 0h desta terça-feira (27) e 70% da frota nos horários de pico. Além disso, o desembargador Luiz Eduardo Gunther também determinou que até as 14h30 de hoje, a Urbs, a Coordenação da Região Metropolitana (Comec), órgão estadual, e as empresas que operam no transporte coletivo, apresentem em nova audiência, um plano para quitar o adiantamento salarial dos trabalhadores que estava em atraso.
Desde o final do ano passado, o Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região Metropolitana (Sindimoc) reclama do atraso do adiantamento de 40% dos salários dos profissionais, que normalmente é pago até o dia 20 de cada mês. Atualmente, os salários de cobradores e motoristas de ônibus são, respectivamente, R$ 1.028,11 e R$ 1.814,94.
"Nosso objetivo é resolver o problema do transporte público de Curitiba e demos o primeiro passo. Mas infelizmente entendemos que garantir 50% da frota a partir da 0h é um número muito grande. São pais de famílias que estão estressados, sem receber, com aluguel vencendo, outros débitos vencendo e eles estão indignados. Vamos orientar os trabalhadores a voltar ao trabalho. Esperamos que até amanhã (hoje) à tarde tenhamos uma resposta. Os trabalhadores não são culpados pela greve. Se a Urbs e a Comec quisessem resolver eles não tinham deixado chegar neste ponto", ressaltou Anderson Teixeira, presidente do Sindimoc.
A mobilização geral ocorreu mesmo indo contra a liminar expedida pela Justiça do Trabalho de garantir a manutenção de 70% da frota em operação no horário de pico e 50% nos demais horários, sob pena de multa de R$ 300 mil. O Sindimoc alegou que não tinha sido notificado oficialmente da decisão e que, por isso, a paralisação foi geral.
Esta demora no acerto dos pagamentos vem sendo questionada também pelo Sindicato das Empresas de Transporte Urbano e Metropolitano de Passageiros de Curitiba e Região Metropolitana (Setransp), que alega não ter caixa suficiente para arcar com os adiantamentos, se não receber os repasses que estão atrasados. De acordo com a entidade, o problema ocorre por conta de um impasse entre a Urbanização de Curitiba (Urbs) e a Coordenação da Região Metropolitana de Curitiba (Comec).
Segundo informações da Urbanização de Curitiba (Urbs), o débito do órgão com as empresas é de R$ 5,6 milhões, entretanto o órgão reclama que o governo estadual ainda não quitou os valores sob sua responsabilidade e que estão previstos pelo convênio que mantém o subsídio do transporte coletivo. O convênio atual venceu no último dia 31 de dezembro e ainda não foi renovado. Conforme a Urbs, a dívida do governo estadual totaliza R$ 16,7 milhões.
Já a Comec, órgão estadual, reforçou seu posicionamento, dizendo que honrará todas as parcelas definidas pelo convênio de 2014. A Comec ainda ressalta que uma pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo (USP), mostrou uma discrepância no número de passageiros da Região Metropolitana de Curitiba em relação aos dados apresentados pela Urbs, e que subsidiaram o convênio encerrado em dezembro.
Conforme nota oficial, a Comec ressalta que "enquanto a Urbs estima que o número de passageiros oriundos da Região Metropolitana representa 21,7% do total de usuários da RIT, a pesquisa da Fipe constatou que esse número chega, na verdade, a 31,2%, ou seja, é cerca de 50% maior do que a URBS alega. Além disso, a própria planilha da Urbs demonstra que a RIT tem um custo operacional 15% menor nas linhas metropolitanas, em comparação com as linhas urbanas de Curitiba".