Apesar do mercúrio ser um metal nocivo à saúde, até mesmo letal se em contato com o sangue humano, não há nenhum controle no Estado sobre o destino das lâmpadas fluorescentes - que contêm vapor de mercúrio -, utilizadas para iluminação pública na maioria dos municípios paranaenses. A Cavo, situada na Cidade Industrial de Curitiba (CIC), única empresa com local apropriado para armazenar este tipo de material tóxico, recebe mensalmente no máximo 600 lâmpadas quebradas ou estragadas deste tipo, número bem inferior ao usado em todo Estado.
Os números também são baixos na Mega Reciclagem de Materiais, uma das duas empresas de reciclagem de lâmpadas fluorescentes do País. Com sede em Curitiba, ela recebe todas as lâmpadas destinadas à Cavo. Entre janeiro e abril deste ano, só 10 mil lâmpadas foram encaminhadas à Mega pela Cavo para reciclagem.
A Superintendência de Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental (Suderhsa), órgão apontado pelo Instituto Ambiental do Paraná (IAP) como responsável pela destinação dos resíduos tóxicos, confirma que os municípios não têm local adequado para destinarem as lâmpadas com vida útil vencida ou quebradas. "A Suderhsa tem um programa de aterro sanitário, mas só para resíduo urbano. Se não vão para a Cavo, as lâmpadas acabam indo para os lixões mesmo", diz Enzo Bonetto, diretor de Saneamento Ambiental da Suderhsa.
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A Copel também não sabe precisar o destino das lâmpadas dos 399 municípios do Estado, uma vez que em muitas cidades é a própria prefeitura quem administra a iluminação pública. De acordo com o assessor de Gestão e Marketing de Distribuição da Copel, Gilson Zardo, nos municípios em que a empresa é responsável pela iluminação, todas as lâmpadas de mercúrio com vida útil vencida são encaminhadas à Cavo, para posterior reciclagam pela Mega.
"Tudo o que vai para a Cavo acaba vindo para cá", conta o diretor de Apoio Técnico da Mega, Mikhail Sdoukos. A empresa recicla mensalmente entre 40 a 50 mil lâmpadas, provenientes de órgãos públicos de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná. A reciclagem é feita em uma máquina, que aspira o mercúrio e separa vidro e metal, que também são reciclados e vendidos para outras empresas. O mercúrio retirado é doado ao Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet/PR) para pesquisas.
Cada lâmpada, segundo Sdoukos, tem menos de um grama de mercúrio, resultando no final do mês na retirada de uma ampola de cerca de 20 centímetros. "O problema é que o mercúrio é tóxico e mesmo uma quantidade pequena pode trazer danos", explica. De acordo com ele, 85% das lâmpadas chegam inteiras, garantindo uma reciclagem mais segura. As outras 15% chegam quebradas, podendo ou não conter mercúrio, dependendo se o espaço que contém o produto foi danificado.
Pelo menos em Curitiba, as lâmpadas devem ter o destino correto. Há um ano e oito meses a prefeitura aderiu ao Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel) (ver box), o qual prevê a troca de todas as 90 mil lâmpadas de mercúrio existentes na cidade por lâmpadas de vapor de sódio. De acordo com o gerente de Iluminação Pública da Secretaria Municipal de Obras, Ernesto de Mello Wendler, até novembro deste ano a maioria das lâmpadas estará sendo armazenada em depósitos da prefeitura, para prestação de contas junto à Eletrobras sobre a quantidade de material trocado.
Um total de 40% das lâmpadas retiradas, de acordo com ele, estão quebradas em função de ações de vandalismos. "Estas vão direto para o aterro da Cavo", explica Wendler. Mesmo assim, elas são encaminhadas à Mega para reciclagem. Outras 35% já estavam com a vida útil vencida e o restante está sendo usado para manutenção até o final do ano, quando todas as lâmpadas já devem ter sido trocadas pelo modelo de vapor de sódio.