Quem não aprende por bem, acaba aprendendo por mal. Esse dito popular serve para exemplificar a situação vivida pelo Paraná diante de vários acidentes envolvendo derramamento de óleo. Foi preciso as ocorrências se repetirem e os danos se agravarem para então o poder público, as entidades ambientais e o setor industrial começarem a se preocupar em implantar uma política mais eficiente de controle aos desastres ambientais.
O problema, é que tudo ainda não passou da fase das discussões. Enquanto isso, diante de evidentes falhas no processo de prevenção, o remédio continua sendo as tentativas de amenizar os danos, muitas vezes irreversíveis, causados principalmente ao meio ambiente. Nos últimos meses acidentes com óleo deixaram de ser uma prerrogativa do Rio de Janeiro, para fazerem parte do cotidiano dos paranaenses.
Essas foram algumas das conclusões do debate promovido pela Folha para discutir a questão dos vazamentos no Paraná. Na última quarta-feira representantes da Petrobras, Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e Liga Ambiental participaram de uma discussão com jornalistas da Folha em Curitiba. Todos tentaram responder a uma única pergunta: o que está acontecendo no Paraná? Todos também foram unânimes em afirmar que o Estado não está preparado para fazer frente a desastres ambientais de grande porte.
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Mas, como nunca é tarde para começar -ou nesse caso rever políticas e dar atenção a uma situação que vinha sendo praticamente ignorada pelas autoridades- o Paraná tenta, ainda que num esforço sem rumo definido, encontrar fórmulas e dar respostas aos constantes vazamentos e acidentes ambientais.
A falta de know-how, tanto por parte dos responsáveis pelos acidentes, como dos órgãos públicos ambientais no trato com situações dessa natureza também foi um dos assuntos do debate. Todos os participantes concordaram, que por conta da chamada "hipótese de risco" existente no manuseio do óleo, os acidentes muitas vezes não têm como serem evitados. Apesar disso, os participantes também admitiram que o Paraná não levava essa hipótese em consideração antes de terem acontecidos os grandes vazamentos, como o da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar), em 16 de julho do ano passado, quando 4 milhões de litros de óleo atingiram o Rio Iguaçu.
Como não existe o risco zero nas atividades com petróleo, os debatedores entendem que as ações devem ser desenvolvidas a partir de um trabalho conjunto, envolvendo governo, empresas e ONGs. Para eles, um dos pontos fundamentais é o investimento em planos de prevenção e emergência que garantam um atendimento rápido e eficaz.
Está claro que estão sendo tomadas medidas para melhorar a situação. Mas, também ficou evidente, que toda essa mobilização só está acontecendo por motivo de força maior. Os acidentes pipocaram e o Paraná foi obrigado a combater, mesmo que de uma forma amadora, os prejuízos e seus causadores. Infelizmente, ninguém pensou em se preparar antes dos desastres acontecerem. Agora, todos estão aprendendo com eles. Porém, tudo isso tem um preço, que acaba saindo muito mais caro do que a prevenção.
O debate também mostrou que ninguém sabe ainda dos reais danos causados à fauna e flora das áreas atingidas pelos acidentes. Para se ter uma idéia, não existe, ainda, um diganóstico sobre o prejuízo à natureza causado pelo acidente da Repar em 16 de julho do ano passado. Ninguém se preocupou ainda em catalogar as espécies atingidas em acidentes como esse, que atingiu o Rio Iguaçu, e como os ocorridos na Serra do Mar, por exemplo, onde foram afetadas áreas de proteção ambiental da Mata Atlântica.
Todas essas discussões, questionamentos e medidas tomadas (pós-acidentes) pelo Estado, setor privado e ambientalistas foram colocadas durante o debate e fazem parte desta reportagem. Participaram do encontro Rubens Novicki (gerente-geral da Repar), Ana Cecília Nowacki (Coordenadora de Estudos e Padrões Ambientais do Instituto Ambiental do Paraná (IAP), José Álvaro Carneiro (Liga Ambiental).
O material foi produzido pelos jornalistas Maigue Gueths, Katia Michele e Giovani Ferreira.