Apesar dos constantes acidentes, das falhas no processo de manutenção da malha ferroviária e da redução de pessoal, a América Latina Logística (ALL) resolveu aumentar a velocidade média de suas locomotivas. Em busca de maior lucratividade, a empresa que administra 7 mil quilômetros de ferrovias nos estados do Sul decidiu assumir os riscos e executou um reajuste médio de 10% na velocidade de tráfego dos trens. A ALL atua hoje no Sul de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.
No Paraná, onde a ALL administra pouco mais de 2 mil quilômetros de trilhos, algumas rotas permaneceram intactas, mas na maioria a velocidade aumentou entre 20 e 25%, passando de 40 para 50 km/hora e de 50 para 60 km/hora em alguns trechos, como por exemplo entre Curitiba e Ponta Grossa. Nos trechos onde a velocidade passou de 40 para 50 km/hora, o aumento chega a 25%.
Responsável pelo transporte de 2 milhões de toneladas de carga por mês (em época de safra agrícola), a ALL também traz em seu currículo números negativos, como dezenas de acidentes e a demissão de aproximadamente 2/3 dos funcionários que pertenciam à Rede Ferroviária Federal S/A (RFFSA). Na avaliação do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias nos Estados do Paraná e Santa Catarina (Sindifer), a busca pela produtividade por parte da ALL tem um preço alto à sociedade, que assiste ao desemprego e aos constantes acidentes envolvendo as locomotivas da empresa, que na maioria da vezes causam danos principalmente ao meio ambiente.
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A empresa, como não poderia ser diferente, discorda da avaliação sindical, justificando as demissões como parte de um contexto econômico e os acidentes como fatalidades, falhas humanas ou atos de vandalismo. A ALL, como qualquer outra empresa, deixa claro que busca números e resultados. Mas também faz questão de ressaltar que investe na manutenção da malha e do patrimônio público herdado da RFFSA.
De acordo com Edson Luiz Araújo, gerente de produção da ALL, o aumento da velocidade obedece critérios que levam em consideração a manutenção da via. Disse, que as rotas onde a velocidade está sendo reajustada são as melhores em termos de manutenção. Com relação aos acidentes, Araújo explicou que nenhuma composição descarrilou ou envolveu-se em acidentes nos trechos onde os trens estão mais rápidos.
Apesar da determinação da ALL, um maquinista, que não quis se identificar, disse à Folha que por questões de segurança é difícil cumprir as velocidades impostas. Ele relatou, inclusive, que os maquinistas são pressionados a obedecer as metas. "Existe até um ranking de regularidade dentro da ALL, onde os maquinistas são submetidos a um verdadeiro rali."
Além do aumento da velocidade, o número de vagões que circulam por determinada rota também aumentou. Um exemplo claro é a estrada de ferro que corta a Serra do Mar, entre Curitiba e Paranaguá. Hoje descem a Serra entre 600 e 700 vagões por dia. Esse mesmo número é o de retorno de Paranaguá para Curitiba. Ano passado a média era de 500 vagões por dia.
As alterações de velocidade estão sendo programadas desde que a ALL assumiu a malha, mas somente este ano essas mudanças estão acontecendo de forma mais efetiva. Araújo explicou que a meta de aumentar a velocidade média em 10% é até o final do ano. No momento a aumento médio estaria em torno de 8% e 9%.
O Ministério dos Transportes lavou as mãos sobre o assunto, alegando que a responsabilidade sobre a decisão é exclusiva da ALL. Por outro lado, a iniciativa da ALL faz com que o Instituto Ambiental do Paraná (IAP) e o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) cobrem do governo federal uma fiscalização mais efetiva nas ferrovias do Estado.