Em 1997, o jornalista e publicitário Eduardo Emílio Fenianos fez uma viagem de 100 dias por Curitiba. Com o desafio de conhecer cada canto da cidade, sem retornar à sua casa neste período, andou por todas as ruas da capital, navegou 216 km de rios e conversou com milhares de moradores, que lhe contaram histórias da cidade e o acolheram para dar pousada e comida. Com este desafio, para muitos considerado "uma maluquice", Fenianos fez sua fama na cidade, onde passou a ser conhecido como "o urbenauta", ou seja, um viajante que, ao invés de se embrenhar em expedições para outras partes do mundo, preferiu viajar dentro de sua própria cidade.
Nesta quarta-feira, Fenianos chegou em Curitiba trazendo na bagagem mais uma história para contar. No dia 9 de junho, completou quatro meses de uma expedição realizada dentro da cidade de São Paulo, nos mesmos moldes da viagem realizada há três anos em Curitiba. "O desafio foi muito maior. A começar pelo tamanho de São Paulo, com 1,509 km2, ou seja, quatro vezes maior do que Curitiba e pela população que é seis vezes maior", disse.
A viagem a São Paulo teve início às 12 horas do dia 10 de fevereiro, partindo do ponto mais central da capital paulista, a Praça da Sé. Sua idéia inicial era dividir a experiência em duas fases, que ele acabou batizando de "a selva" e "a selva de pedra". A primeira parte previa conhecer as duas matas situadas nos extremos norte e sul da cidade e cinco rios.
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"Na selva, encontrei muita ecologia que era desconhecida, como uma cachoeira de 70 metros, onde fiz rapel", conta. Ele também surpeendeu-se com a presença de Mata Atlântica em plena São Paulo, além de dois rios Capivari e Embuguaçu, ainda preservados. "Os outros estão todos poluídos. Até o Ipiranga, em cujas margens foi declarada a independência do Brasil parece um reflexo da política do País de tanta sujeira".
Na cidade, as surpresas ficaram por conta das pessoas com quem encontrou pelo caminho. "Logo no início encontrei com pessoas de uma região super-perigosa, no Grajaú, que me deram muitos toques de como não ser atacado, como fazer contato com as pessoas", conta. Com este aprendizado, bebeu cerveja com "assassinos", conversou com traficantes, e fez amizades com marginais, que o ajudaram por diversas vezes a escapar da ação de outros marginais.
Para vencer seu desafio de não estabelecer uma casa e pernoitar sempre no bairro em que estivesse, o urbenauta dormiu em 108 lugares diferentes, entre eles a casa da apresentadora Ana Maria Braga, do sertanista Orlando Villas Boas, na comunidade Hare Krishna, repúblicas punks, em uma tribo indígena, na delegacia, na zona, em casa de ladrões e em várias favelas.
Nos quatro meses, navegou 200 quilômetros, andou 80 quilômetros a pé dentro das florestas da Cantareira e Serra do Mar e rodou 6.120 quilômetros em seu jeep, batizado de "urbenave". Sua maior aventura, no entanto, partiu de um desafio de um morador de uma favela. "Viajar assim é fácil, quero ver você viver com um salário mínimo", disse o homem. O urbenauta topou a parada, e no décimo dia já tinha acabado o dinheiro. "Tive que pedir comida e local para dormir", conta.
Foi nestes dias de aperto que descobriu que a solidariedade dos pobres é bem maior do que das pessoas de poder aquisitivo maior. "As pessoas mais ricas têm medo de te acolher, por causa da violência, já os mais pobres até disputam para ver quem vai te levar para casa".