O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) acusa a Polícia Militar (PM) de ter preparado uma emboscada e executado, a tiros, dois trabalhadores rurais na tarde desta quinta-feira (7) em Quedas do Iguaçu (165 km a leste de Cascavel). A nota, emitida hoje pelo movimento, contraria a versão oficial da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Paraná (Sesp), que alegou confronto entre integrantes e policiais.
Segundo o MST, cerca de 25 homens circulavam de caminhonete e motocicleta, a 6 km do acampamento, quando foram surpreendidos por policiais e seguranças da Araupel. "Estes alvejaram o veículo onde se encontravam os Sem Terra que, para se proteger, correram para o mato, em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram. (...) Todas as vítimas foram baleadas pelas costas o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com a PM e seguranças", escreve o MST.
O grupo alega também que a PM não permitiu o acesso de familiares e socorristas ao local. "Sem a presença do IML removeram as vítimas e objetos da cena do crime. E nem permitiram acesso dos familiares das vitimas, advogados e imprensa, ameaçando as pessoas que se aproximavam", completa.
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Exige, ainda, a imediata investigação e prisão dos policiais e seguranças que participaram da ação; o afastamento da PM e retirada da segurança privada contratada pela Araupel; e a garantia de segurança e proteção das vidas de todos os trabalhadores acampados.
Durante a situação, duas pessoas morreram: Vilmar Bordim, 44 anos, casado, pai de três filhos e Leomar Bhorbak, 25 anos, que deixa esposa grávida de nove meses. Também foram feridos mais sete trabalhadores e dois acabaram detidos para depor mas já foram liberados.
Outro lado
A Sesp informa que duas equipes da PM foram vítimas de uma emboscada quando tentavam ajudar a combater um incêndio numa área conhecida como Fazendinha, nas proximidades do acampamento Dom Thomas Balduino.
Assim que o fogo começou, os policiais da Ronda Ostensiva Tático Móvel (Rotam) e uma brigada de incêndio da empresa Araupel foram até o local para combater as chamas. Mas antes de chegar até o local da queimada, os policiais foram alvo de uma emboscada.
Ainda conforme a Sesp, mais de 20 pessoas do Movimento Sem Terra (MST) estavam no local e começaram a disparar contra as equipes da PM, que reagiram ao ataque. Com os dois trabalhadores mortos, a polícia afirma que apreendeu uma pistola 9 milímetros e uma espingarda calibre 12. O restante do grupo se embrenhou na mata.
A PM informa que enviou equipes para o local para resgatar as vítimas, inclusive um helicóptero para remover os feridos. Além disso, foram destacados policiais militares e civis para a região com o objetivo de reforçar a segurança – uma vez que há uma briga judicial envolvendo o MST e a empresa Araupel. A Polícia Civil já abriu um inquérito para apurar os fatos.
Leia a nota do MST na íntegra:
Na tarde de quinta-feira (07 de abril), famílias do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), organizadas no Acampamento Dom Tomas Balduíno, no município de Quedas do Iguaçu, região central do Paraná, foram vitimas de uma emboscada realizada pela Policia Militar do Estado e por seguranças contratados pela empresa Araupel. No ataque covarde da PM e seguranças da Araupel, foram assassinados os trabalhadores rurais Vilmar Bordim, 44 anos, casado, pai de três filhos e Leomar Bhorbak, de 25 anos, deixa esposa gravida de nove meses. Também foram feridos mais sete trabalhadores e dois foram detidos para depor e já foram liberados.
O acampamento, cuja ocupação teve início em maio de 2015, possui aproximadamente 1,5 mil famílias O acampamento está localizado no imóvel Rio das Cobras que foi grilado pela empresa Araupel. A Justiça Federal declarou, em função da grilagem, que as terras são publicas e pertencem a União e devem ser destinados para a reforma agrária.
Não houve confronto algum segundo o relato das vítimas do ataque. A emboscada ocorreu enquanto aproximadamente 25 trabalhadores Sem Terra circulavam de caminhonete e motocicleta, há 6 km do acampamento, dentro do perímetro da área decretada pública pela justiça, quando foram surpreendidos pelos policias e seguranças entrincheirados. Estes alvejaram o veiculo onde se encontravam os Sem Terra, que para se proteger, correram mato a dentro em direção ao acampamento, na tentativa de fugir dos disparos que não cessaram. Em relato a PM admite que os dois corpos foram recolhidos de dentro da mata. Todas as vítimas foram baleadas pelas costas o que deixa claro que estavam fugindo e não em confronto com a PM e seguranças.
A PM isolou local onde ocorreu a emboscada por mais de duas horas, impedindo o socorro dos feridos, além de bloquear qualquer outra pessoa que se aproximasse para socorrer e documentar a cena do crime. Sem a presença do IML removeram as vítimas e objetos da cena do crime. E nem permitiram acesso dos familiares das vitimas, advogados e imprensa, ameaçando as pessoas que se aproximavam.
A Policia Militar criou um clima de terror na cidade de Quedas do Iguaçu, tomando as ruas, cercando a delegacia e os hospitais de Quedas do Iguaçu e Cascavel para onde foram levados os feridos, impedindo qualquer contato das vitimas com familiares, advogados e imprensa.
O ataque da PM aos Sem Terra aconteceu após o Deputado Rossoni assumir a Chefia da Casa Civil do Governo do Paraná e, que, coincidentemente, esteve em visita ao Município de Quedas do Iguaçu, no dia 01 de abril de 2016, acompanhado do Secretario de Segurança Publica do Paraná, Wagner Mesquita, e representantes das cúpulas da policia do Paraná. Que determinaram o envio de um contingente de mais de 60 PMs para Quedas do Iguaçu.
O MST está na região há quase 20 anos, e sempre atuou de forma organizada e pacifica para que houvesse o avanço da reforma agrária, reivindicando que a terra cumpra a sua função social. Só no grande latifundiário da Araupel foram assentadas mais de 3 mil famílias.
O MST exige justiça e:
- Imediata investigação, prisão dos policias e seguranças, e punição de todos os responsáveis – executores e mandantes- pelo crime cometido contra os trabalhadores rurais Sem Terra.
- O afastamento imediato da policia militar e a retirada da segurança privada contratada pela Araupel.
- Garantia de segurança e proteção das vidas de todos os trabalhadores acampados do Movimento na região.
- Que todas as áreas griladas pela empresa Araupel sejam destinadas para Reforma Agrária, assentando as famílias acampadas.