Num cubículo separado dos demais detidos no 2º Distrito Policial de Londrina ficam seis presos. São estudantes universitários suspeitos de envolvimento com o tráfico de drogas. Instruídos e pertencentes a famílias de classe média, eles não são bem vistos na carceragem e precisam ficar apartados dos demais presos.
A polícia lembra que estudantes universitários sempre mantiveram relações com o consumo e o tráfico de drogas, mas raramente eram apanhados em flagrante. Desde a criação do Grupo Especial de Combate ao Narcotráfico (Gecon), em agosto do ano passado, essa relação começou a chamar a atenção em Londrina.
O grupo, formado pelas polícias Civil e Militar, concentrou a apuração das informações recebidas sobre tráfico de drogas e fechou o cerco. Este ano por exemplo, além de maconha e lança-perfume, o Gecon conseguiu fazer as primeiras apreensões de ecstasy e LSD, substâncias estimulantes e alucinógenas, respectivamente, largamente usadas em festas ''raves''.
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A Folha conversou com os dois primeiros universitários presos pelo Gecon. Em outubro do ano passado, eles foram surpreendidos com 4,3 quilos de maconha dentro de casa. Presos desde então, foram condenados a quatro anos de prisão cada um mas recorreram da sentença.
Sem se identificarem, os estudantes contaram que eram apenas usuários e que o verdadeiro dono da droga era um menor que morava com um deles. Eles tinham sua própria casa, viviam da mesada dos pais e só com a mensalidade da faculdade gastavam R$ 350,00.
Os universitários admitem que jamais imaginaram ser presos por tráfico, crime hediondo e, portanto, inafiançável. ''Não passava pela nossa cabeça.'' Só perceberam a gravidade do fato quando se viram atrás das grades.
A rotina na cadeia, que conta com mais de 190 presos, é difícil. ''Estamos perdendo o contato com a sociedade. Isso aqui não reeduca ninguém'', dizem. A primeira visita dos pais também foi traumática, segundo eles. ''Foi terrível, porque eles sempre querem o melhor para gente.''
O delegado do Gecon, João Aquino, aponta que na maioria das vezes os estudantes não acreditam que podem ser condenados e se envolvem com as drogas como forma de auto-afirmação. ''Eles não se vêem no mundo crime. Bandido para eles é apenas quem rouba ou mata, mas é preciso deixar claro que estão financiando o tráfico pesado'', comentou.
Aquino disse que os ''traficantes por profissão'' - que sobrevivem do tráfico - se aproveitam dos universitários, porque sabem que eles têm dinheiro. Outro facilitador é que esses estudantes, em sua maioria, não residem com as famílias e não despertam desconfianças dos vizinhos. ''É uma investigação difícil'', revelou.
O delegado do 2º DP, Manoel Pelisson, se entristece quando recebe casos desse tipo. ''Eles têm boa estrutura familiar e os pais não entendem o que fizeram de errado para os filhos. Por terem condição social privilegiada acham que ficarão impunes. Na realidade, isso não acontece porque a lei é igual para todos'', avalia.
Ele argumenta que os universitários normalmente são mais ameaçados pelos outros presos e, por isso, precisam ser colocados em celas separadas.