Cinema

Uma tarde com Coppola

07 ago 2003 às 14:24

Após o final da era dourada de Hollywood, no final dos anos 60, uma nova geração de cineastas oriundos das chamadas "film schools" surgiu no cinema americano. Esta geração de enorme talento trouxe nomes como Steven Spielberg, George Lucas, Martin Scorsese, Brian De Palma e aquele que mais rapidamente atingiu sucesso de crítica e de público: Francis Ford Coppola. Realizador de alguns dos maiores clássicos da história recente do cinema, com especial atenção para uma fase de inspiração ímpar entre 72 e 79 – O Poderoso Chefão, A Conversação, O Poderoso Chefão 2 e Apocalypse Now – Coppola ainda entregou filmes respeitáveis nas décadas seguintes – Peggy Sue, Tucker e Drácula de Bram Stoker, por exemplo. O cineasta está preparando o que pode ser a sua volta triunfal ao ambiente que tão bem domina: a história épica, que lida com as mais profundas aspirações e contradições do ser humano. Esse retorno já tem nome – Megalopolis, previsto para 2004 – e passa por Curitiba.

Coppola veio até a capital paranaense com o objetivo de fazer pesquisa para a sua futura produção. Curitiba, segundo ele, reúne os elementos arquetípicos de uma cidade moderna. É a idéia por trás de Megalopolis. O diretor imaginou uma história de uma grande metrópole no futuro, projetada com o objetivo de potencializar o bem-estar dos cidadãos.


"Sou italiano, falo demais", disse um bem-humorado Coppola aos cerca de 40 alunos da especialização em Cinema da Universidade Tuiuti do Paraná no último sábado, 2 de agosto. Por intermédio da coordenadora do curso, Denize Araújo, Coppola dedicou uma hora e meia para falar sobre sua experiência no ramo cinematográfico. Uma oportunidade única de contato com parte significativa da história do cinema moderno.


O diretor começou a responder as perguntas do público falando sobre o futuro da sétima arte com o advento do cinema digital. "Usar a tecnologia é fácil. Difícil é o que não depende dela, como atuar e escrever", disse. Sobre a possibilidade de uma quarta parte da saga O Poderoso Chefão, Coppola disse não ter tido interesse nem em fazer o segundo capítulo. "Resultou em um bom filme, mas o terceiro foi feito por dinheiro. Estava quebrado", revelou.


Coppola não tem mais se preocupado com dinheiro desde que entrou para o ramo de vinhos. "Isso sustenta minha família. Agora posso dedicar meu tempo apenas ao que quero fazer. Posso ser um filósofo", brincou o diretor.


Analisando sua geração, Coppola falou sobre alguns diretores famosos. Spielberg: "Steven é bastante talentoso, mas nunca teve pretensão de ousar em seus filmes e foi rapidamente absorvido pelos estúdios". George Lucas: "Conveci-o a contratar um técnico em diálogos, assim seu último fime [o Episódio II de Star Wars] resultou melhor. Oliver Stone: "É um louco".


Perguntado sobre quem seriam os cineastas que estariam dando um novo gás ao cinema, Coppola ficou em família. Citou sua filha Sophia (que dirigiu o excelente As Virgens Suicidas) e o genro Spike Jonze (Quero Ser John Malkovich), além de Alexander Payne e Paul Thomas Anderson ("Embriagado de Amor foi o melhor filme que vi no ano passado", afirmou).


Sobre o cinema brasileiro, Francis Coppola disse não estar muito atualizado, mas revelou alguns dados interessantes. "O último filme brasileiro que assisti foi Central do Brasil, mas vi um filme que nenhum de vocês viu – Chatô", disse sem revelar maiores detalhes. Porém, contou que nos anos 60 recebeu em sua casa Glauber Rocha. "Ele me chamava de Antônio das Mortes", disse entre risos, referindo-se ao personagem de Deus e o Diabo na Terra do Sol.


Falou sobre suas influências: Kubrick, Antonioni, John Frankenheimer, Truffaut, Bergman, Fellini, Elian Kazan. E quando o assunto chegou aos oscars que recebeu, contou: "A única vez que achei que ia ganhar, perdi [para Bob Fosse, quando concorria por O Poderoso Chefão]. Mas é apenas um prêmio, não o Santo Graal".

Coppola finalizou dando conselhos para futuros cineastas. "Escolas de cinema tem como razão o acesso aos equipamentos e a interação entre os estudantes. Aos futuros diretores sugiro estar sempre perto da câmera, não se prendendo ao monitor. Aos escritores, que nunca leiam o que escreveram. Escritores desenvolvem uma espécie de vírus que faz com que achem que tudo que escreveram seja uma porcaria. O negócio é ir em frente e não desisitir". Sábias palavras de um mestre.


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