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Realismo português em quadrinhos

06 jun 2007 às 11:00

A obra original é portuguesa mas o visual remete ao estilo tupiniquim
- Reprodução
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Curitiba - Eça de Queiroz é considerado o maior escritor realista português do século XIX. Marcatti não chega a ser ''a'' referência como quadrinhista brasileiro destes últimos cem anos, mas com certeza é um dos grandes. Ambos estão juntos, em edição da Conrad Editora, na adaptação da obra literária ''A Relíquia''.


A trama da adaptação da obras de Queiroz nos quadrinhos obviamente segue a original: Teodorico Raposo, estudante de Direito, faz as vezes de coroinha para a tia Maria do Patrocínio, ou Titi, católica fervorosa e herdeira da fortuna de seu avô. Durante o dia, o sobrinho segue a turma de bajuladores que se fingem de santinhos para ficar mais perto da grana. À noite, Teodorico se transforma em Raposão, entregue aos pecados, bebidas e mulheres.

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A consagrada história de Queiroz prima pela ironia e pela contundente crítica ao catolicismo português, que, na adaptação, ganha contornos gráficos ''abrasileirados''. Explica-se: Marcatti tem um traço inconfundível, moldado no underground do quadrinho nacional, com arte-final que une o tosco ao rebuscado, e que tem a cara do povão tupiniquim. Afinal de contas, a história do autor português, apesar de ter sido publicada em 1887, continua sendo bastante atual, inclusive no panorama social-econômico por que passa o Brasil.

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Como era de se esperar, Marcatti imprime fortemente seu estilo pelas 224 páginas da adaptação. Licença poética pra lá de perdoada, já que sua narrativa fluente, sem grandes inovações mas extremamente eficaz, junto de seu desenho caricato, cartunesco e que remete muito ao cinismo, criam a atmosfera perfeita para a atualização gráfica de uma obra literária tão importante.

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Em 30 anos de carreira, Marcatti ficou conhecido nos anos 80 devido ao seu forte apego por histórias que misturam escatologia, sexo e fetiches. A fúria de seu nanquim em desenhos bastante estilizados marcaram seu trabalho, em obras como ''Frauzio'', ''Mariposa'', ''Fábulas do Escárnio'' e ''Lôdo''. Em ''A Relíquia'', porém, o quadrinhista evitou um pouco essa sua faceta e o resultado ficou um pouco mais leve, abrangente para o grande público. Os fãs puristas vão preferir os trabalhos anteriores e os críticos, apesar do autor não ligar a mínima para isso, vão falar menos sobre ''material apelativo'' e outras bobagens.



A edição da Conrad, como já vem acontecendo há algum tempo, é correta, bem resolvida, com a gramatura certa para o trabalho em nanquim preto-e-branco e capa dura. Os ''extras'' nas últimas páginas são bem legais, com um relatório ilustrado de como foi o processo de criação e adaptação da obra de Queiroz para os quadrinhos de Marcatti.

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A adaptação segue uma tendência vista nos últimos meses no mercado brasileiro, o de trazer autores consagrados da literatura para a Nona Arte. ''O Alienista'' (Machado de Assis), foi transformado em dois quadrinhos, dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá, e da série Escala Educacional, que também já lançou ''Bras, Bexiga e Barra Funda'' (Antônio de Alcântara Machado), ''O Cortiço'' (Aluísio Azevedo), ''Memórias de um Sargento Milícias'' (Manuel Antonio de Almeida), ''A Cartomante'' (Machado de Assis), ''A Nova Califórnia'' (Lima Barreto), ''A Causa Secreta'' (Machado de Assis), ''Miss Edith e seu Tio'' (Lima Barreto), ''Uns Braços'' (Machado de Assis), ''O Homem que Sabia Javanês'' (Lima Barreto), ''O Enfermeiro'' (Machado de Assis) e ''Um Músico Extraordinário'' (Lima Barreto).



A adaptação de obras famosas já foi explorada por editoras norte-americanas, a exemplo dos quadrinhos de ''Moby Dick'', ''A Queda da Casa de Usher'' e ''Grandes Esperanças''. Se por um lado comemora-se o fato das editoras nacionais apostarem em autores conhecidos da literatura brasileira, principalmente para fomentar o uso das revistas como ferramente na sala de aula, por outro fica ainda mais evidente a escassez de roteiristas para o setor no Brasil, o que acontece há anos. Bem, quem sabe após ler ''A Relíquia'' não surja um novo autor que saiba escrever bem, não?



Serviço - ''A Relíquia'', de Eça de Queiroz, adaptado por Marcatti. O livro tem 224 páginas, com capa dura azul e miolo preto-e-branco, no formato 16 x 23 cm. Pode ser encontrado em livrarias e comic shops por R$ 32.

O material citado acima pode ser encontrado em Curitiba na Itiban Comic Shop: Av. Silva Jardim, 845. Fone: (41) 3232-5367.


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