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Precauções não podem parar!

Pesquisadoras falam sobre avanço da variante Delta e incidência entre jovens

Redação Bonde com Agência UEL
02 set 2021 às 14:58

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- Arquivo/HU UEL
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O avanço da variante Delta do novo coronavírus, identificada na Índia em outubro de 2020, tem preocupado a OMS (Organização Mundial da Saúde), que já a classificou como uma “variante de preocupação”. Presente em mais de 120 países, segundo dados atuais da OMS, a estimativa é que ela se torne predominante em todo o mundo com o avançar da pandemia, superando, por seleção natural, as outras variantes locais.


No Brasil, mesmo com o avanço da vacinação (60 milhões de brasileiros já estão completamente vacinados, seja com as duas doses ou com dose única, segundo dados das secretarias estaduais – covid-19.br, as possibilidades de a nova variante agravar a pandemia a partir do aumento explosivo de casos são bastante reais, caso medidas de controle não sejam tomadas novamente. Essa é a avaliação das pesquisadoras do CCS (Centro de Ciências da Saúde) da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Marselle Nobre de Carvalho e Jaqueline Dario Capobiango.

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Professora do Departamento de Saúde Coletiva e coordenadora do Projeto Safety – que divulga semanalmente boletins informativos sobre a situação epidemiológica da Covid-19 em Londrina, no Paraná, no Brasil e no mundo – Marselle acredita que a situação local enseja cuidados. “Durante o mês de agosto, um mês após a Secretaria de Saúde (do Paraná) anunciar que já há transmissão comunitária da variante Delta no estado, já observamos uma grande alta nas infecções”, observou.

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Circulação Comunitária - Embora os índices estejam crescendo, a pesquisadora lembra que não há, ainda, como afirmar como está efetivamente a circulação da variante Delta no Paraná. “O sequenciamento genético está sendo feito, em Curitiba. Posso deduzir que há, sim, circulação da variante no estado, que já é 60% mais transmissível do que a (variante) Gama (ou P1, proveniente do Norte do País)”.


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Um fator que deve chamar a atenção são as análises recentes do sequenciamento genético nas cidades de São Paulo, feitas pelo Instituto Butantan, e Rio de Janeiro, feitas pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Os municípios apresentaram índices de, respectivamente, 43,5% e 56,6% de circulação da variante. “Como Londrina está no meio de grandes cidades, a tendência é que a variante já esteja bastante espalhada por aqui”, ponderou a pesquisadora.


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A circulação comunitária da variante Delta em outros países, como EUA e Reino Unido, permaneceu em ascensão, mesmo com parcelas significativas da população já vacinadas. No Reino Unido, segundo o Boletim Safety, onde 64,1% da população está completamente imunizada, cerca de 90% dos casos confirmados são da nova cepa indiana.


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Alta de infecções, queda no número de óbitos - Os dados do 30º Boletim Safety (acesse aqui), divulgado no último dia 30 de agosto, apontam um grande salto nas infecções desde o início de agosto no Paraná, precedidos de uma baixa. Na semana do dia 15, foram registradas, segundo a média móvel, 1980 casos por dia. Sete dias depois, dia 22, os registros chegam a 3717 para, uma semana depois, retornarem ao patamar de quase 2 mil casos. “Isso pode indicar baixa testagem também, mas, no geral, não sabemos o que pode ser”, afirma.


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Esse cenário se sustenta, segundo Marselle, devido ao relaxamento das medidas de contenção: distanciamento, uso de álcool em gel, uso de máscara e lavagem de mãos. Isso, somado ao avanço da primeira dose, que não confere imunidade total às variantes, trouxe uma falsa “sensação de proteção” à sociedade, que vê os números de óbitos estacionarem e a média, cair. “Embora tenhamos menos óbitos atualmente, os índices apontam para um aumento de casos, principalmente com a volta às aulas. Há uma sensação de que a pandemia está acabando, nos bares, nas ruas de modo geral”, avalia.


Aumento nos índices de positivados - Segundo a médica infectologista pediátrica e professora do Departamento de Pediatria, Jaqueline Capobiango, outro fator que deve ser levado em conta é o aumento do índice de positivados com a doença. “No HU (Hospital Universitário da UEL), que é responsável pela centralização dos testes de UPAs (Unidades de Pronto Atendimento), UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e outros hospitais, víamos um índice de 10% de resultados positivos no início de agosto. Nesta semana, esse índice atingiu, em um dia, quase 60% de positivados”, ressaltou.

Os percentuais, no entanto, variam bastante de acordo com os dias, mas têm se tornado constantes índices de 20% ou 30% de positivados nas duas últimas semanas de agosto, segundo dados do HU. Esse cenário pode se chocar, segundo a pesquisadora, com a liberação das aulas presenciais nas escolas. “Ainda não se sabe muito bem o que as novas variantes podem fazer nos mais jovens. Outros países, como Canadá e EUA, estão com um aumento bastante significativo de internações de crianças e jovens, especialmente em crianças com alguma comorbidade leve, como obesidade. Esse público não está sequer vacinado no Brasil”, argumenta.

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A incidência de Covid-19 nos jovens pode favorecer, ainda, o surgimento de novas mutações do vírus, de acordo com Jaqueline. “Embora não existam dados ainda para o Paraná, preocupa a possibilidade de que, com a circulação da variante Delta, tenhamos um aumento de casos em populações que não estavam expostas antes, o que pode ocasionar variantes mais resistentes”.


Outro ponto de destaque é a capacidade hospitalar (não só de Londrina, mas do Brasil) de lidar com uma explosão de casos em jovens e crianças. “Não temos estrutura para lidar com esse aumento, se ele vier. Tudo o que fizemos até agora foi direcionado para adultos e idosos”, confirma.


Cenário de incerteza - No entanto, se os números apontam para um cenário de alta das infecções, o que poderia configurar uma terceira onda em breve, não é possível afirmar que isso acontecerá, muito menos da forma que ocorreu nas duas primeiras ondas – os dados brasileiros chegaram a apontar até 70 mil novos casos diários e quase 70 mil mortes por mês em abril, por exemplo. Marselle lembra que, com o avanço da vacinação, podemos ter uma “ondinha” de casos ou um cenário preocupante em meados de setembro e outubro.


“O que se sabe é que as medidas de contenção não-farmacológicas, que estamos repetindo há mais de um ano, são as mais eficazes. A variante Delta duplica o número de internações em relação à Gama, embora os sintomas inicialmente sejam mais leves, então é importante continuar com o distanciamento, não fazer festas, não aglomerar”, relatou. Esse ponto, inclusive, também traz mais questionamentos.


Para a pesquisadora, há ainda a hipótese de que, como os sintomas ocasionados pela nova variante são em grande parte mais brandos, os infectados (grande parte vacinada com pelo menos uma dose) não busquem atendimento, alimentando as possibilidades de uma subnotificação de casos. “Isso pode distorcer os índices que temos e dificultar o combate”, encerrou a pesquisadora.

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