O mês de setembro teve início em um sábado. Por natureza, um dia da semana bastante convidativo para programar uma noitada. Neste 1º de setembro de 2001, duas casas noturnas de Curitiba pensaram no público rocker quando definiram suas atrações musicais. Destas, o espaço cultural 92 Degrees deveria ser, obrigatoriamente, a primeira escala, devido ao horário de funcionamento. Seus shows são realizados cedo, iniciando por volta das 20h, chegando no máximo às 22h. Um horário bem sacado, pois assim é possível para o público aproveitar melhor a noite, podendo partir para outras baladas na seqüência.
Lá acontecia a festa de lançamento do CD "Zombification", segundo da banda psychobilly Os Catalépticos, de Curitiba. Donos de bastante prestígio em sua terra natal (e também na Europa), lotaram a casa, como é de costume, atraindo cerca de 300 pessoas. Os paulistas do New City Rockers foram os convidados para abrir a noite. Trouxeram um psychobilly básico que teve a aprovação dos curitibanos, que responderam à altura com um bom pogo (a dança típica dos adoradores de hardcore e psychobilly).
Em Curitiba, quando os Catalépticos tocam com alguma banda de outra cidade, é muito comum que eles se apresentem por último para "segurar" o público. Esta característica é digna de mérito, uma vez que os freqüentadores de shows na cidade apresentam uma tendência a valorizar mais as atrações que vêm de fora. Cesta de três pontos para o "power" trio mais irado do psychobilly curitibano, que apresentou-se logo em seguida para delírio do público e agitou até o último acorde.
Vlad, ostentando um grande topete ruivo, empunha a guitarra que tornou-se mais rock e menos metal no último disco. Cox toca curvado e repetidamente sua bateria de poucas peças, enquanto Gustavão, de cabeça raspada, esbofeteia as cordas de seu baixo em formato de caixão.
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Visual em plena sincronia com a estética psychobilly, que vem a ser um meio termo entre o rockabilly e o punk. Iniciaram com "Terrible nightmares", a primeira do CD. Foram levando ao vivo a mesma seqüência do disco, até quebrar com "Death Train", que já se tornou um clássico do disco anterior. Cerca de 15 músicas compunham o repertório, inclusive uma cover de "Brand new cadillac", canção consagrada pelo The Clash.
A balada continua
A festa poderia ter acabado, mas a noite não. Muitos que se encontravam por lá rumaram para o Vintage Café, onde reinava o clima das décadas de 50 e 60. Bem diferente do 92 Degrees, onde praticamente todas as pessoas ficavam em pé, o Vintage tinha mesas e cadeiras a "granel" para garantir maior conforto e um ambiente de bar para os fregueses.
Por volta de meia-noite, subiram ao palco os Faichecleres, que transpiravam a psicodelia dos anos 60 por todos os poros. Alteravam composições próprias e covers que entregavam sua influência máxima: o grupo gaúcho Cascavelletes. Quem não conhecia, ficava sem reação diante de músicas embebidas de promiscuidade de "Menstruada", "Ela só quer me ter" e "Casalzinho pegando fogo". Impossível não chegar ao riso com suas letras.
O segundo e último show era do V8, que na verdade estava substituindo o Big Fish & The Bopalulas, que terminou suas atividades poucos dias antes deste show. Assim, a balada termina com muito rockabilly. Uma conclusão curiosa que se tira desta noite é que enquanto ela avançava, os estilos musicais dos artistas se tornavam mais antigos, rendendo uma cronologia inversamente proporcional. O começo foi com psychobilly, um estilo surgido nos anos 80. O rock dos Faichecleres remete aos anos 60, enquanto o rockabilly é uma criação dos anos 50. Um autêntico túnel do tempo.