O nome do cantor Alexandre Nero passou a despontar no ainda pequeno cenário de artistas MPB que tocam pelas casas noturnas de Curitiba dedicadas ao estilo. Chegou até mesmo a ganhar datas semanais fixas em locais como Aoca Bar e Vilarigno Café. Apesar de já ser conhecido no meio por cantar no Grupo Fato, muito deste êxito recente merece ser creditado ao lançamento de "Maquinaíma", seu segundo CD solo, que foi lançado há alguns meses e apresenta um interessante casamento de recursos eletrônicos com uma música cheia de brasilidade.
Maquinaíma é também o nome de sua banda, formada pelos músicos Ruthenberg (guitarras), Léo Maristi (baixo), Ricardo Ô Rosinha e Coelho (percussões). Nero, que elém de cantar também toca violão e viola caipira, se destaca nesta trupe, conhecida como Alexandre Nero & Maquinaíma. No último Prêmio Saul Trumpet de música paranaense, o cantor foi o grande vencedor da noite, arrebatando os prêmios de melhor cantor, letrista, CD pop e encarte de CD. Apesar do feito, Nero não se deixa impressionar e tem opiniões bastante críticas quanto ao prêmio. Este e outros assuntos são tratados neste entrevista que o cantor concedeu ao Bonde.
Bonde: Sua carreira solo está tão bem sucedida quanto seu trabalho no Grupo Fato. A gente nota isso especialmente pelo número de shows e pelos comentários do publico. Como surgiu este trabalho solo?
Alexandre Nero: A minha carreira solo sempre existiu paralela ao trabalho com o Fato. Pouca gente sabe disso, mas meu trabalho como cantor solo já é um pouco antigo. Eu entrei para o Fato quando eles já tinham gravado dois CDs. Na verdade todos na banda têm uma carreira solo, seja ela na área musical ou não. No meu caso, especificamente, a carreira solo aparece mais porque faço muitos shows.
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Bonde: Como aconteceu a sua entrada no Grupo Fato?
Alexandre Nero: a banda já me conhecia como cantor solo. Afinal, neste nosso cenário musical, todo mundo se conhece por freqüentar os mesmos lugares. Minha entrada foi um namoro interessante, pois quando o antigo vocalista do Fato deixou o grupo para cantar com Milton Nascimento, eu estava muito afim de entrar para a banda. Mas o pessoal do Fato tinha medo de me convidar e eu não topar, por causa da minha carreira solo. Mas eles fizeram o convite e eu aceitei.
Bonde: É possível conciliar com tranqüilidade as duas carreiras?
Alexandre Nero: Sim, pois a quantidade de trabalhos que a gente tem não é tanta, infelizmente. E olha que eu também lido com teatro. Faço trilhas e sonoplastia para espetáculos e às vezes até me arrisco como ator. Seria bom que um dia a quantidade de trabalho aumentasse a ponto de eu ter que optar entre uma carreira ou outra. Mas eu não faço parte do showbusiness, então não cheguei a esse ponto.
Bonde: Enquanto o Fato não faz muitos shows, você como cantor solo se apresenta praticamente toda semana. Por que isso?
Alexandre Nero: Eu, em minha carreira solo, me proponho a tocar em qualquer lugar, seja pequeno ou grande. Toco com a minha banda inteira, meia banda ou sozinho. Me chamou, eu estou indo. Sou uma prostituta (risos). Acho essa visão interessante profissionalmente, financeiramente e emocionalmente. Já o Fato tem uma postura de se apresentar apenas em teatros.
Bonde: Por causa da estrutura do show?
Alexandre Nero: Isso mesmo. Preparar um show do Fato é uma atividade complexa. Há uma estrutura de iluminação, cenário, e figurino que a gente não gosta de mostrar menor do que ele é. Achamos importante mostrar todo aquele profissionalismo nos shows.
Bonde: Ultimamente, o Fato tem se apresentado?
Alexandre Nero: O Fato se apresenta muito mais nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro do que em Curitiba. Porque lá existem projetos culturais das prefeituras e também do SESC. Curitiba muito é carente disso. Também existe a questão da viabilidade. Por exemplo, se o Fato quiser fazer um show em Curitiba no mês que vem, teríamos a maior dor-de-cabeça para produzir um show que nosso público já viu. Enquanto em São Paulo não teríamos que produzir nada. Lá existem produtores que fazem isso pela gente. Mostraríamos um show que as pessoas de lá não viram e ainda receberíamos cachê.
Bonde: Nestes seus dois trabalhos, quais os planos, atualmente?
Alexandre Nero: Em agosto sai um CD ao vivo do Fato gravado nos shows de lançamento do útlimo CD, "Oquelatá Quelateje". Usamos gravações feitas no Teatro da Reitoria, no Guairinha e em São Paulo. Misturamos as melhores e as compilamos neste CD. Inclusive, vai ter faixa multimídia com trechos de shows e o videoclipe da música "Valadares".
Bonde: E os planos para Alexandre Nero?
Alexandre Nero: Quero fazer com que o CD "Maquinaíma" apareça mais, inclusive nos locais em que o Fato já aparece, especialmente em São Paulo e no Rio. Porque aqui em Curitiba não há muito mais o que fazer. O público que tinha que conhecer o CD já o conhece. Todos os jornais e rádios que tinham que divulgá-lo já o fizeram. A propósito, seria ideal que as rádios tocassem o disco. Vou tentar fazer com que ele chegue a alguma gravadora pequena, pois as grandes não teriam interesse. Porque eu gosto muito deste álbum, ao contrário do meu primeiro, "Camaleão", de 1995, eu acho muito ruim e fraco artisticamente.