A guerra dos estilos chegou ao heavy metal curitibano. A luta começou quando bandas que aderiram ao novo metal ou new metal procuraram um lugar ao sol. Os grupos mais representativos do estilo, Primal, Zeitgeist e AMF, querem escapar da toca, já que estão cansados dos shows esporádicos.
O obstáculo encontrado por essas bandas para difundir a nova onda está sendo criado pelos conservadores fãs do metal tradicional. A tribo adotou o metal melódico como a única e verdadeira encarnação de grupos como Kiss, Iron Maiden, Black Sabbath e Susy Quatro.
A capital paranaense é uma das cidades brasileiras onde o consumo pelo metal mantém-se estável desde os meados dos anos 80. Lojas como a Savarin Discos e CD Clube não deixam faltar os clássicos do gênero nas suas prateleiras. Os proprietários justificam a manutenção do catálogo ‘por venderem que nem água’.
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O vocalista Cássio Linhares, da Zeigeist, não consegue entender o atraso e o conservadorismo dos brasileiros e das gravadoras. ‘Nos Estados Unidos o carro chefe é o novo metal. Aqui no Brasil os metaleiros ainda são ligados ao death metal, black metal e ao melody metal’.
A atitude hostil às inovações acaba freando a expansão do estilo, acredita Gugu, líder do Primal, grupo que evita rótulos. ‘Ainda não conseguiram encontrar o nosso estilo. Não sei se é problema da banda. A gente não é heavy metal e nem estamos no meio hardcore ou punk. Os alternativos dizem que somos pesados, e os metaleiros sentem falta de solos e virtuosismos nas nossas músicas’.
Outra banda que passa pelo mesmo problema é o AMF, formada em 98, e que recentemente lançou seu primeiro CD, A New Speech For An Old World Full Of Shit (nova palavra para um mundo cheio de merda). Como seus integrantes encontraram resistência ao trabalho, buscaram na internet uma saída para se mostrarem ao mundo. ‘Disponibilizamos nossas músicas no site ‘www.MP3.com’;’ e tivemos um grande respaldo no exterior. O CD chegou aos Estados Unidos e a Europa’, explicou o baixista e vocalista André.
O produtor e radialista Carlos Augusto de Oliveira, que acompanha a cena metal na cidade há 15 anos, culpa as rádios. ‘Poucas bandas tocam e as cujas músicas rolam geralmente são as mais pops. Enquanto no exterior o novo metal é o mainstream, aqui continua restrita ao underground. As bandas locais que adotam o estilo têm dificuldades para mostrar o som. Um dos meus filhos faz parte do Muck, que adotou o new metal. Recentemente eles tocaram em um evento do colégio, tinha uma galera, mas a maioria tinha ido ao local para ver uma banda que toca o metal mais tradicional’.
A saída para quebrar o gelo dos tradicionalistas ninguém sabe ainda ao certo. Mas arriscam palpites. Fred clama para que os jovens continuem o seu processo de descobrimento. ‘Se você tem fome de conhecimento não espere encontrar tudo em uma prateleira de supermercado’. Já Gugu pede a flexibilização dos mais velhos. ‘A galera das antigas é fechada para esse tipo de som. As revistas também são culpadas. Posso dizer que 90% do conteúdo delas é dedicado ao melody metal. O editor da revista Rock Brigade, a maior do gênero no Brasil, disse na Veja que prefere ouvir pagode do que o nu metal’.
A resistência ao novo não impede a continuidade da filosofia de buscar o caminho para escapar do ostracismo. O Zeitgeist pretende lançar ‘Zeit’ no início do próximo ano. O Primal já tem pronto ‘Corê-etuba’ e espera soltar o CD antes do final do primeiro trimestre de 2002. Já o AMF está com o freio de mão puxado, esperando uma definição do mercado para começar a fazer o segundo álbum.