A cultura paulista dos manos que dizem "certo, meu?" e "tá ligado?" está hoje fortemente relacionada com a imagem que o rap tem Brasil afora. De posse desta visão, deve ser muito normal ficar surpreso diante do trabalho desenvolvido pelo trio Blackout, principal representante do rap em Curitiba.
Defensores da idéia de que os grupos de rap precisam manifestar regionalismo, eles trazem muito da cultura do Paraná para suas músicas. Nada forçado, pelo contrário, com naturalidade. Afinal de contas, cada integrante teve raízes diferentes, presentes por laços de família. MC Jonathan já integrou o Movimento Nacionalista Gaúcho. Bill lapidou seu swingue em extintas escolas de samba. DJ Primo, por sua vez, aprendeu a arte da percussão tocando atabaque em terreiros de Candomblé - tradição de sua família - e herdou de seus tios black power muitos discos de black music dos anos 70 e 80.
Todos estes fatores, somados a um admirável ecletismo, moldaram o sotaque leite quente do grupo. A promiscuidade deste caldeirão cultural, como eles mesmos definem, já serviu até como tese para estudantes de Comunicação Social da PUC do Paraná.
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Sugido em 1993, Blackout foi o primeiro grupo de rap autenticamente curitibano. Antes deles, já havia na cidade um grupo no mesmo estilo, o Projeto Niggaz, mas este tinha 75% de sua formação composta por rappers de outros estados. Durante os dois primeiros anos de existência, a banda ficou reclusa no estúdio ensaiando, para poder fazer bonito nos palcos após um longo tempo de preparativos. DJ Primo só integrou o grupo mais tarde, em 1997. Com Jonathan, Bill e Primo, o Blackout ganhou sua formação clássica.
Além dos diferenciais culturais já citados, o grupo também se destaca por não tratar de violência em suas letras, um tema muito em voga no rap nacional. Outra novidade é a cabeça aberta dos músicos para outros estilos. Já fizeram participações especiais em músicas do grupo de reggae Djambi e também dos metaleiros do Resist Control. Recentemente, integraram o projeto "Conexão, Informação e Integração", produzido pelo músico Vadeco e pelo bar Era Só O Que Faltava. Foram o único grupo de rap em meio a um elenco onde predominava o pop-rock e a MPB.
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*Especial publicado dia 11 de outubro