No quintal da sua casa, no Rio de Janeiro, ele brincava com os versos malandros de Bezerra da Silva. Na adolescência, colocava tal malandragem em prática, perambulando pela noite carioca. Hoje, aos 42 anos, ele a canta à vontade, como se estivesse em casa. Como se o samba fosse a sua praia. E não é que é? Ou não? A verdade é que nem ele sabe ao certo.
Marcelo D2, o rapper ou o sambista, se encontra numa linha tênue entre as duas vertentes da música. Desde que entrou de cabeça em sua carreira solo, após o fim do Planet Hemp, em 2001, o músico foi se afastando mais e mais do verso falado. E se dirigia a passos largos em direção ao samba. Por isso tornou-se ainda mais famoso e colecionou elogios. Agora, verso só cantado.
Quando Bezerra, o mentor e centro de toda dessa mudança morreu, em 2005, D2 já estava em busca da batida perfeita. A mistura de rap com samba havia começado oficialmente dois anos antes, com o disco "À Procura da Batida Perfeita". A influencia do mestre estava lá. No ano seguinte, o "Acústico MTV" foi lançado. Quando recebeu a notícia de que Bezerra da Silva havia morrido, na manhã de 17 de janeiro, pegou o primeiro voo da ponte aérea São Paulo-Rio de Janeiro. Ao chegar ao Teatro João Caetano, no centro do Rio, encontrou Zeca Pagodinho, sentado, com cerveja na mão. "Em enterro de sambista, se comemora", disse o colega. Aquele que já não era mais tão rapper assim concordou e comemorou.
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Ali, entre uma história e outra sobre o ''repórter do morro'', como Bezerra era chamado, veio a ideia de fazer uma homenagem a ele. "Fiquei com isso martelando na minha cabeça. Sabe qual é?". Só neste ano, o ritmo acelerado do produtor Leandro Sapucahy animou Marcelo D2. Em maio, eles começaram a se debruçar nos vinis de Bezerra que o rapper/sambista tinha em casa. "Primeiro, selecionamos umas 50 músicas. Depois, reduzimos até chegar às 14 que colocamos no disco", explica ele.
O CD "Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva" compila as grandes músicas do sambista. "Se Não Fosse o Samba", "Quem Usa Antena é Televisão" e "Minha Sogra Parece Sapatão" estão entre as escolhidas. As canções "Malandro Rife" e "Malandragem Dá Um Tempo" parecem ter sido feitas para a voz de D2. E é voz, mesmo. O disco é inteiramente cantado pelo rapper. O time que o acompanha também é de primeira: Jota Moraes nos arranjos, Carlinhos Sete Cordas, Jerominho Fernandes e Marcos Arcanjo nos violões, além de Miudinho e Leandro Sapucahy em ação nos pandeiros.