O sambista Argemiro Patrocínio, da velha-guarda da Portela, morreu no início da madrugada de 23 de maio, sexta-feira, em sua casa, no bairro carioca de Madureira. Ele ia fazer 80 anos no mês que vem e tinha ficado viúvo há 15 dias, de Walkiria, conhecida como Nina. ''Isso o deixou muito triste, o que agravou seus problemas de saúde, decorrentes da idade'', explicou a pastora Surica, também da velha-guarda, sua amiga há quase cinco décadas.
''Ele não terá substituto no nosso grupo, porque não temos esse hábito. Vamos continuar defendendo suas músicas, especialmente seus grandes sucessos, ''A Chuva Cai'', dele e Casquinha, ''Dancei'', e as do disco que leva o seu nome, ''Sai da Casa dos Outros'', ''Mulher e Solidão'.''
A cantora Marisa Monte, que lançou o disco da velha-guarda da Portela, ''Tudo Azul'', em 2000, e o do próprio Argemiro, no ano passado, foi ao velório, na quadra da escola de samba, em Oswaldo Cruz. ''Estou muito triste. Ele, Manacéia, Alberto Lonato (já falecidos), Monarco, Casquinha e Seu Jair, têm uma temática, um lirismo característicos da Portela. Uma forma de compor que está se extinguindo'', disse ela.
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Argemiro foi para a Portela nos anos 50, como ritmista, levado pelo primeiro diretor de bateria da escola, Betinho. Logo se tornou compositor de músicas que faziam a crônica da vida carioca, em melodias delicadas, ricas que encantavam os conhecidos, mas eram pouco divulgadas por ele mesmo.
Paulinho da Viola, que frequentou a escola desde os anos 60 e criou a velha-guarda em 1970, conta que demorou para considerá-lo compositor. ''Ele chegou tocando pandeiro, de uma forma muito particular à Portela, que só o Alberto Lonato fazia igual. Mas não dizia que era compositor. Só fui descobrir mais tarde quando a Beth Carvalho gravou ''A Chuva Cai''', contou Paulinho, também presente no velório. ''O disco dele e do Seu Jair, produzido pela Marisa Monte, é um dos mais bonitos da história do samba. Além de compor, ele tinha uma voz maravilhosa, como todos na velha-guarda''. No final do ano passado, Argemiro se apresentou no Teatro da Reitoria, em Curitiba, juntamente com Jair do Cavaquinho, para divulgar este seu primeiro e único CD solo.