Depois de rodar o mundo difundindo e aprendendo música, Naná Vasconcelos começa a flertar com o pop. Ele quer fazer um trabalho voltado para o público jovem, para as pistas de dança. O disco deve misturar ritmos como o drum machine, o techno e o dance. "Vou fazer um trabalho pop, mas a minha maneira. Eu quero buscar uma ligação maior com o jovem e acredito que esse é um caminho", contou Vasconcelos.
Esse novo trabalho não é uma experiência nova. Em 1984, Naná tocou uma bateria eletrônica, acompanhando um grupo de break dance, nos Estados Unidos. "Foi uma experiência interessante. Eu programei uma performance para uma bateria eletrônica e toquei junto com ela, não dava para saber quem estava tocando o quê", risos.
Sempre bem humorado, Naná Vasconcelos recebeu a imprensa para uma coletiva antes de apresentar um workshop em Londrina, no dia 16 de agosto, que reuniu perto de 80 pessoas em umas das salas da Universidade Estadual de Londrina. A sala ficou pequena para abrigar os holofotes da imprensa e o público participante. O workshop "O entendimento do ritmo através do corpo" tem uma didática que procura a experiência prática como método.
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Vasconcelos acredita que é muito melhor aprender fazendo do que apenas escutar a teoria. "A gente está sempre aprendendo e na música o primeiro passo é aprender a ouvir. Eu descobri que a gente aprende muito com o corpo. Com ele a gente pode fazer música sem instrumento, o bater dos pés no chão ou as palmas das mãos. O melhor instrumento é o corpo e o maior é a voz.", explica Naná.
Em sua passagem por Londrina, Naná também apresentou um show, no dia 17 de agosto, no Cine Teatro Ouro Verde. A apresentação do músico foi baseada no CD "Fragmentos - Modernas Tradições", lançado em 1998 na Europa, no Japão e nos Estados Unidos e que só agora chega ao Brasil, por meio do Núcleo Contemporâneo (nucleoart.com.br). Apesar desta distância com o mercado fonográfico brasileiro, o percussionista garante que musicalmente ele nunca abandonou o Brasil, sempre procurando fazer uma música brasileira. O CD traz trilhas de filmes, músicas compostas para apresentações de balé e uma reunião de trabalhos feitos ao longo de sua carreira.
'Modernas Tradições' é o nome de um festival de música que eu dei em Salvador. Eu gosto muito desta ligação, a tradição é eterna, mãe de tudo o que a gente faz. O moderno é o nome de um dos filhos da tradição e o filho mais novo desta grande mãe, se chama Internet", divaga o músico.
Naná Vasconcelos é um músico improvisador. Ele conta que no show que fez em Londrina em maio, durante o Cabaré do Filo, teve um pouco de receio ao ver uma platéia jovem e desconhecida, mas com o decorrer da apresentação surgiu uma energia entre ele e o público. "Eu adorei o carinho recebido. É muito interessante essa ligação com o público. Na Noruega você faz um show e todo mundo fica calado o tempo todo, só aplaude no final. Já os italianos, os latinos em geral, são muito mais abertos, gritam durante a apresentação, querem participar mais"(risos), conta.
Para o músico, rir é uma das melhores maneiras de demonstrar a seriedade. Conversando sobre a música brasileira e mundial, Naná lamenta o fato de que no Brasil se escuta muito pouca música brasileira. "A música virou um produto descartável, as composições estão perdendo a poesia, existe uma mesmice nas palavras e as mulheres são tratadas como objeto", lastima o percussionista, sem deixar de comentar o lado positivo desses movimentos. "No funk, por exemplo, o dinheiro fica na periferia. A pessoa faz sucesso, constrói uma casa para a mãe, ajuda alguns amigos", comenta. Outro fator que prejudica o mercado nacional, segubndo ele, é a grande abertura que se dá nas rádios para a música estrangeira. "A bossa nova só entrou com tudo no mercado nacional e internacional porque ela foi divulgada pelos americanos".
Vasconcelos também acredita que tanto a música nacional como a estrangeira estão passando por uma fase de releituras. No Brasil, muitos jovens estão resgatando a música tradicional e dando uma cara nova. "Hoje há um resgate do chorinho, do baião e principalmente do forró, agora com uma roupagem mais universitária. Na Europa tem um brasileiros fazendo sucesso, principalmente na Inglaterra, com uma mistura de bossa nova, samba e drum machine. É o Bossa Cuca Nova".
Solando com um berimbal, instrumento muito usado nas rodas de capoeira, Naná deixa escapar um pouco de sua inspiração. "O Villa Lobos me mostrou que a música tem um aspecto visual e o Jimi Hendrix, tocando a sua guitarra, me mostrou que o instrumento não tem limitação".