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Pedro Luís e a Parede comemoram 10 anos de suíngue

Heitor Humberto
11 abr 2006 às 17:28

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Pedro Luís e a Parede é uma banda peculiar. O grupo carioca mistura samba, suíngue, rock, reggae e muitos outros estilos. Toca instrumentos inusitados e chama todos eles simplesmente de "batucada". Já teve uma música entre as mais tocadas no Japão.

As canções de Pedro Luís, principal compositor da banda, já foram gravadas por Fernanda Abreu, Adriana Calcanhotto, O Rappa, Ney Matogrosso, entre outros.

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O conjunto, que comemorou dez anos de carreira essa semana em Curitiba, está divulgando o CD "Seleção 1997 - 2004", que abrange os quatro discos já lançados: "Astronauta Tupy" (1997), "É tudo 1 real" (1999), "Zona e Progresso" (2001) e "Vagabundo" (2004), esse último em parceria com Ney Matogrosso.

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Leia a seguir a entrevista que o músico e compositor Pedro Luís concedeu ao Bonde.

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Bonde: Vamos começar lá do começo.
Pedro Luís: bora!


Bonde: Eu li que você começou a compor com dez anos de idade.
Pedro Luís: É, eu estava tentando. Na verdade eu considero que comecei depois dos 14, 15 anos mais ou menos.

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Bonde: Você escrevia e tocava?
Pedro Luís: Escrevia primeiro, tocava também. Tocava mal, né, que nem eu toco até hoje (risos). Tinha um violão lá em casa porque meus irmãos mais velhos estudavam e desde cedo eu ficava ali, tocando um pouco.


Bonde: Foi nessa época que você começou a cair no suingue?*
Pedro Luís: (risos) É, talvez. Na verdade a coisa do suingue, de fazer o baile, foi quando eu encontrei a rapaziada da banda e aí a gente resolveu fazer um formato dançante.

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Bonde: E como vocês se conheceram?
Pedro Luís: O Sidón, o Mario e o Celso tocaram junto comigo num trabalho de uma cantora chamada Arícia Mess. Já eu e o Celso nos conhecemos através do Antonio Saraiva, que é um parceiro meu. A gente fez um trabalho nessa época que usava bastante percussão, no começo dos anos 90. Eram quatro percussionistas. A gente não usava bateria. A bateria era desmontada num set de percussão. Assim era originalmente, né. A bateria é uma invenção do jazz, que pegou a sessão percussiva e juntou tudo na mão de um cara só. Aí a gente usou esse conceito do Antonio e desmembrou a bateria de novo.


Bonde: Com o primeiro disco, Astronauta Tupy, vocês foram tocar no Japão. Como que surgiu essa oportunidade?
Pedro Luís: Surgiu através de uma parceria com um popstar japonês, Miazawa Kazufuni, que tem uma banda chamada The Boom e que tem um trabalho solo também. Ele tinha composto várias músicas e queria que elas tivessem letras em português. O Suzano, que era um dos co-produtores do disco, convocou letristas brasileiros – eu, o Lenine, o [Paulinho] Moska e o [Carlinhos] Brown – para fazerem as letras. Aí ele veio gravar no Brasil. Ele conheceu o Astronauta Tupy e os produtores dele levaram o disco para o Japão. A Warner de lá lançou e a gente acabou indo fazer uma turnê. Foi bacana porque uma das músicas que eu fiz com ele, Brasileiro em Tóquio, foi um super sucesso no Japão. Outra, Pena de Vida, ficou durante três meses entre as 50 músicas estrangeiras mais tocadas no Japão.

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Bonde: E como era a reação da platéia no show?
Pedro Luís: Quando a gente estava no backstage, a gente achava que não tinha ninguém por causa do silêncio absoluto no lugar. Eles são quietinhos, têm muita educação, uma civilidade curiosa. Mas na verdade foram casas cheias e platéias super vibrantes. A gente deu a sorte de estar com uma equipe local muito bacana. Uma jornalista japonesa que morou alguns anos no Brasil traduziu nossas letras para o japonês.


Bonde: Vocês cantaram em Japonês?
Pedro Luís: Não, a gente aprendeu algumas coisas como "boa noite", "vamos dançar", uns motes para nos comunicarmos com a galera. O curioso é que os encartes saíram traduzidos para o japonês. Então os japoneses arremedavam um pouco o português. Eles sabiam o que estavam cantando, mas não sabiam falar em português. Eles imitavam a sonoridade e cantavam junto.

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Bonde: Na canção "Fazê o quê?" você diz que para fazer uma música basta um papel e uma caneta. No entanto, a banda utiliza uma parafernália de instrumentos. Como que surgiu essa idéia de usar tantos instrumentos diferentes e inusitados?
Pedro Luís: A gente queria ampliar o espectro de sonoridade da percussão que usávamos e aí começamos a utilizar algumas coisas inusitadas. A gente começou a experimentar algumas sonoridades. Usamos durante muito tempo um alumínio chanfrado que era um pedaço de chão de ônibus.


Bonde: E de onde vocês tiraram a idéia de usar um chão de ônibus?
Pedro Luís: Era uma mesa de churrasco de um ex-empresário nosso. Ele sabia que a gente tinha gosto por usar coisas diferentes no set.

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Bonde: O mais engraçado são os nomes que vocês dão para esses instrumentos: chão de buzum, calota do Kid...
Pedro Luís: Kid era um técnico de som da Rádio MEC que apareceu um dia e disse "pô, acordei de madrugada, soltou a calota de um caminhão e bateu no portão lá de casa. Eu trouxe para vocês". Aí fomos colecionando e batizando com alguns nomes peculiares (risos).


Bonde: Em 2001 vocês lançaram o "Zona e Progresso", terceiro disco da banda. Existe algum significado por trás desse nome?
Pedro Luís: Foi uma sugestão do Mário. O nome não só é o título de uma canção que está no disco como uma definição do processo que foi a gravação desse álbum. A gente começou, interropmeu, viajamos, fomos para a turnê na França que foi bacana, mas ao mesmo tempo super complicada. Ficamos muito tempo longe de casa. Ele foi batizado dessa maneira porque definiu o processo de realização daquele álbum. Era um progresso na nossa vida, mas foi uma bagunça danada.


Bonde: Vocês já tinham contato com o Ney Matogrosso desde o primeiro disco, quando ele fez uma participação na música Caramujo Jah. Como vocês decidiram fazer o Vagabundo?
Pedro Luís: O Ney foi num show da gente um pouco antes de gravarmos o primeiro disco. Ele adorou a sonoridade, gostou das músicas. Depois até gravou músicas minhas e sempre era um convidado nosso no show, fazia participações especiais. O projeto em conjunto começou a partir de um encontro nosso no Canecão. Ele fez uma participação um pouco mais extensa em nosso show e a platéia recebeu super bem. A gente começou a ver a possibilidade de transformar num projeto de parceria que acabou virando o Vagabundo.


Bonde: Eu li que o Ney Matogrosso queria um nome forte para o disco.
Pedro Luís: É, ele queria "Vagabundo" ou "Jesus", que eram músicas do repertório que tinham essa força no título.


Bonde: "Vagabundo" não deixou o mundo como está. Ganhou alguns prêmios...*
Pedro Luís: Ganhou o Prêmio TIM, o Prêmio Bravo! e o de melhor disco de 2004 da APCA [Associação Paulista dos Críticos de Arte], que é um prêmio bacana, muito importante.


Bonde: Como foi a recepção desse show nas cidades?
Pedro Luís: O Ney é uma figura muito ímpar e com uma platéia muito formada. Eu acho que ele, no Brasil, tem uma representatividade que talvez quem tenha? O Raul Seixas, né? Em qualquer lugar do interior do país a rapaziada conhece. Conhece a voz, conhece o visual exótico que ele usou durante muitos anos. Então é uma figura que tem um carisma de popstar por onde passa. Isso já era uma vantagem. Já chegava com o jogo praticamente ganho.


Bonde: E o projeto serviu para divulgar a PLAP? Tinha gente que ainda não conhecia?
Pedro Luís: Muita gente do público dele não conhecia. Eu acho que isso foi um dos grandes gols para gente. Foi uma generosidade dele oferecer essa platéia para a gente. Isso tem até mesmo a ver com o lançamento do "Seleção". A gente quis lançar uma coletânea para mostrar para essa platéia que a gente teve contato, que havia uma história anterior a aquilo, que a banda não estava chegando naquele momento.


Bonde: E a banda está completando dez anos, certo?
Pedro Luís: Completou ontem! Comemoramos aqui em Curitiba, com champanhe e tudo.


Bonde: E nesses dez anos, se vocês pudessem voltar o relógio e fotografar algum momento, qual seria?*
Pedro Luís: (risos) No Japão foi muito especial, alguns momentos em Portugal, o [festival] Abril Pro Rock, em 1998. Foi um momento forte, no qual ninguém conhecia a gente e a gente entrou muito receoso do que poderia acontecer e no meio do show já era uma vibração, como se tivéssemos sidos acolhidos como pernambucanos.


Bonde: E o Monobloco?
Pedro Luís: o Monobloco surgiu a partir de oficinas. Na verdade, primeiro foi uma oficina informal que a Parede fez em São Paulo, que consistia em adaptar algumas coisas que a gente vinha criando na Parede. Idéias rítmicas para um instrumental de escola de samba Quando chegamos no Rio, a gente propôs à prefeitura uma oficina permanente, já com vistas de usar esse contingente de alunos para a possibilidade de fazer um bloco mesmo. O mote era: Oficinas do Monobloco – venha aprender percussão com Pedro Luis e a Parede. Foi um sucesso. Com aquele contigente, nós pensamos: "já dá pra transformar isso aqui num bloco". Aí convocamos puxador, cavaquinho e começamos a formatar a festa. No começo de 2001, conseguimos o espaço que a gente queria, num clube da zona sul e convocamos alguns convidados ilustres como Herbert [Vianna], Lenine, Fernanda [Abreu] e Seu Jorge. As festas foram um sucesso. O primeiro desfile do Monobloco já foi surpreendente: arrastou dez mil pessoas pela avenida. Depois virou um fenômeno do verão que foi se desdobrando. A gente criou o formato Monobloco Show, que é um coletivo menor, que tem no máximo 21 pessoas no palco. Nesse formato, o grupo já gravou dois CDs e um DVD.


Bonde: E o show da PLAP hoje em Curitiba? O repertório vai ser baseado no Seleção?
Pedro Luís: Sim, é o repertório do Seleção, com mais músicas do que está ali, mas com essa característica que o disco tem que é de abranger todas as fases da história da gente.


Bonde: Vão colocar o pessoal para dançar?
Pedro Luís: Exatamente.


Bonde: Os sapatos é que vão se danar...*
Pedro Luís: (risos) É.


(*) Perguntas baseadas em músicas da banda.

Heitor Humberto, 21, é estudante de jornalismo e vocalista da banda Heitor e Banda Gentileza


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