Beto Trindade tem seu nome associado a um dos poucos movimentos culturais de Curitiba que tem personagens próprios. Este artista por muito tempo fez parte da trupe de poetas boêmios curitibanos da década de 80 que, não só publicavam seus livros, mas também tinham como curtição compôr letras de músicas para algumas bandas da época - de todas, a Beijo AA Força foi a que ficou mais conhecida. O nome mais ilustre da turma de compositores foi sem dúvida Marcos Prado, (falecido em 1996), que praticamente foi o fundador do grupo.
Há mais de dez anos, Trindade (que tinha uma forte inclinação para música) percebeu que a melhor saída para o artista paranaense era o aeroporto. De Curitiba, foi morar no Rio de Janeiro, onde, entre outros trabalhos, fez dublagem para o seriado japonês Jaspion. Pouco tempo depois, mudou-se para Recife, até se instalar de vez em Londres, onde reside há 11 anos trabalhando com música. A saudade pela terra natal fez com que o poeta nutrisse um maior interesse por sua cultura, o que o levou a desenvolver um trabalho com música brasileira em pleno território inglês.
Gravou três volumes de uma série chamada "O Melhor de Trindade", um trabalho que já vinha sendo desenvolvido no Brasil. Os registros eram gravados em cassete e distribuídos mundo afora. Catorze músicas deste material foram selecionadas para o CD "O Melhor do Bom do Trindade", lançado recentemente através da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba. No álbum, Trindade canta, toca diversos instrumentos (violão, guitarra, baixo, percussão, teclados, cavaquinho, zabumba) e faz os arranjos musicais.
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Além de tudo isso, participou da composição das letras, feitas em parcerias com seus velhos colegas de boemia: Edilson Del Grossi, Sérgio Viralobos, Roberto Prado, Alberto Centurião, Tadeu Wojciechowski, Edson De Vulcanis, Marcio Goedert e Bira Gonçalves (este último, responsável pela arte do disco), além de Rodrigo Barros e Luiz Ferreira (ambos músicos do Beijo AA Força) e Luis Solda, que não eram necessariamente do grupo de poetas-letristas. Apesar de neste disco não haver nenhuma música de Marcos Prado, o saudoso poeta teve uma participação indireta no disco: os desenhos da capa foram feitos por sua esposa, Iara Teixeira, que até quatro anos atrás era proprietária de um bar chamado Carraspanas, nos arredores do prédio da Reitoria da UFPR.
A poesia cínica, ácida e irônica das letras são embaladas por ritmos misturados, tais como samba, MPB, bossa nova, jazz à brasileira e até rock (em "O Filho Pódrigo") e até um pouco de eletrônica, percebida nas três últimas do disco - "Auíca", "Macho Menos" e "Sirene Ri". O CD vai além da música brasileira, incorporando elementos de outras culturas musicais. Parte disto se deve à influência e bagagem cultural dos músicos que acompanham Trindade: a flautista e clarinetista Hilary Burt veio da Irlanda, o percussionista Mahmoud Alhourani é palestino, enquanto o baixista Andy Hoggarth nasceu em Londres. Com este time, o CD passou a ser gravado na Inglaterra, para mais tarde ser finalizado no Brasil, onde mais quatro músicos (a maioria, da banda Beijo AA Força) deram suas contribuições, acrecentando mais vocais e linhas de violão, guitarra e baixo a o que já estava gravado.
Alguém pode imaginar que Trindade está pegando o mesmo bonde do cantor francês Manu Chao, por fazer de seu disco um caldeirão étnico e aparecer na foto da capa usando um turbante na cabeça. Quanto à música, não há o que comparar, pois Trindade e Manu Chao fazem trabalhos bem diferentes. Quanto ao figurino, não diria que seja uma imitação, mas uma forma de diferenciação, pois Trindade está fazendo sua carreira na Inglaterra, país onde semanalmente milhares de discos são lançados. Para se destacar em meio a essa grande remessa, um artista deve dizer ao que veio logo na capa. Para os ingleses, Trindade é diferente e exótico, escapando de ser apenas mais um na multidão. Prova disso é que eventualmente pode-se escutar alguma de suas músicas na rádio BBC de Londres. Trindade levou a maior parte dos discos para o exterior, mas ainda pode-se adquirir uma cópia na Livraria Dario Veloso (Praça Garibaldi) ou mandando um e-mail para o próprio músico: E-mail:[email protected]