A irreverência e o bom humor fazem da banda Velhas Virgens, o maior grupo de rock independente do Brasil. Longe da mídia, das rádios e da televisão, a banda tem orgulho de ser indigesta e causar impacto. O último álbum lançado foi "Sr. Sucesso", uma crítica ao mercado fonográfico nacional por ser o primeiro CD brasileiro vendido exclusivamente em bancas de revista.
O Velhas Virgens nasceu no litoral paulista, em um acampamento realizado em 1985. Dos primeiros integrantes só restou o vocalista e líder da banda, Paulão. O guitarrista Cavalo entrou no ano seguinte e está até hoje. Achar os outros membros do grupo foi um problema.
"Acho que o Lips é o nosso milésimo baterista. Encontramos um monte de músicos chatos, depois encontramos um bêbado e resolveu (risos). Não que ele não toque bem, o cara é bom, mas ideologicamente é bêbado, e isso que faz a coisa funcionar", satiriza Paulão. A formação atual traz Tuca, Caio, Cavalo, Lilps, Paulão e Cláudia.
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Em passagem por Londrina, onde mais uma vez dividiram o palco com a banda Made In Brazil, o vocalista Paulão recebeu o Bonde para uma entrevista. Sem economizar nos palavrões, Paulão falou sobre a banda, os projetos e toda a irreverência dos Velhas Virgens.
Bonde: De onde veio o nome Velhas Virgens?
Paulão: O nome veio de um filme do Mazzaropi.
Bonde: Fale um pouco das letras e do estilo de música do Velhas.
Paulão: Nós fazemos um rock’n roll de diversão. Tem um monte de gente que faz música com mensagens, explicam às pessoas como deve-se viver. Isso é do caralho. Tem muitas músicas do Raul Seixas que trazem isso. Nós não sabemos fazer isso. Sabemos apenas falar de bebedeira, putaria, mulherada, noitada. O rock tem muito a ver com isso, de as pessoas saírem para beber e voltarem mais leves, esquecendo um pouco dos problemas do dia-a-dia. Nós queremos resgatar o rock como uma forma de diversão mesmo.
Bonde: Como você analisa ao mercado fonográfico brasileiro?
Paulão: As gravadoras e as rádios são um bando de corruptos, só tocam quem paga. O Velhas não paga e não toca. Só toca quando tem um programador ou um locutor de bom gosto que coloca o nosso som. Uma boa parte da cultura musical brasileira está longe da mídia porque não paga.
Bonde: O álbum "Sr. Sucesso" é um ataque ao mercado fonográfico nacional?
Paulão: É uma crítica direta ao corporativismo musical, que diz como você deve se vestir, o que você deve dizer. A música é tratada como se fosse um produto descartável, que você compra e depois joga fora. Música é arte, tenho muito orgulho de fazer parte de uma banda indigesta. Acho que a arte tem que ser indigesta, tem que ser problemática.
Bonde: Vocês lançaram o CD-Rom "Reveillon 2001" no final do ano passado. Como foi este trabalho?
Paulão: O CD-Rom tem os clipes da banda, tem fotos, tem uma porrada de coisas. O problema é que acabou ficando caro, mas é um trabalho para colecionador que vai estar sempre em catálogo. Ele traz nove músicas que foram criadas para as pessoas se divertirem no Carnaval e que a gente não toca nos shows. Mas o povo pergunta: Vocês tocam rock e fizeram marchinhas de carnaval? A nossa relação é com a cerveja e com a putaria (risos). Bêbado não sabe dançar samba, não sabe fazer porra nenhuma. E marchinha de carnaval é aquele negócio, só precisa se mexer um pouquinho. Talvez mais para frente saia um CD só com estas músicas.
Bonde: Quais os novos projetos do Velhas Virgens?
Paulão: O segundo CD, "Você não sabe como é bom aqui dentro", estava preso na gravadora Velas e só agora conseguimos comprar os direitos. É um disco que estava com muita procura e sumido no mercado. Ele deve ser relançado nos próximos meses. Depois, mais para o final do ano, perto do Natal, vamos lançar um disco ao vivo, em homenagem aos 15 anos da banda. Este trabalho ao vivo já está pronto, só estamos esperando para mandar prensar e acertar a melhor maneira de distribuir.
Nós também somos uma distribuidora independente e isso é complicado. Estamos acertando com a Associação Brasileira de Microcervejarias, que tem sede em todas as capitais, vamos ver se vai dar tudo certo. Inclusive o show de lançamento deste CD deverá ser realizado em Curitiba. E tem uma série de outros projetos, temos repertório para mais uns vinte discos. Não vamos sobreviver a tanto (risos).