Optando a príncipio e inconscientemente, a trabalhar com figuras humanas, a artista plástica Maria Ivone Bergamini Vannucchi, começou aos poucos a despir esses trabalhos até chegar no tema atual e que está exposto no Museu da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, intitulado "Persistências", e que são gravatas, nós, voltas, tecidos, cores e sombras.
"Fui tirando as figuras, ficaram as roupas. Retirei as roupas e ficaram as gravatas. Esse objeto, simbolicamente fálico, remete também a amarras, nós, poder, vaidade. Tem conotação masculina, do homem que realiza, corre, aparece, compete, chega ao sucesso, ainda e muitas vezes, na frente da mulher. Tanto que é difícil citar mulheres artistas plásticas de grande sucesso. Só mais atualmente, estamos sendo reconhecidas. Ao passo que homens há em grande quantidade", explica. Mas ela não esquece de citar os crimes de colarinho branco como outro símbolo da gravata.
Talvez inconscientemente, como ela mesma explica, tenha optado por trabalhar com as gravatas para reconhecer e externar suas aflições e conquistas. "A gravada significa a luta e os nós, às vezes tão difíceis de serem realizados, são também desafios, que podem ser desfeitos."
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Enfim, as gravatas, suas voltas, entradas e saídas, passando por dentro, por cima, puxando o laço, nada mais são que os caminhos da própria vida. Maitas vezes temos grandes dificuldades em achar esses jeitos, e outras, nosso grande desafio é desatar nós e mais nós, desfazer laços, achar o resultado bom ou não gostar e ter de refazer tudo.
Mas Maria Ivone oferece as indicações. Duas das séries da exposição são didáticas e incentivam tanto a fazer quanto a desfazer. São telas menores ou desenhos, ensinando passo a passo e com setas indicativas, os caminhos das voltas.
Outra parte são trípticos que se complementam. Um com detalhes de colarinhos, gravatas, camisas e botões ou simplesmente laços. Há ainda um espaço reservado para o que Maria Ivone chamou de "Feminino Plural". Também um tríptico, mas apenas com tecidos pintados em cores suaves. Cobrindo uma das telas a artista colocou um pano leve como uma cortina. Explicando melhor, ela diz que a mulher dona-de-casa está sempre com um pano nas mãos. Ou limpando, ou passando, lavando, vestindo, guardando.
Antes do casamento Maria Ivone conciliava bem as atividades: historiadora e artista plástica. Com a chegado dos filhos foi obrigada a fazer escolhas e optou pela atividade que garantia um suporte financeiro. Desta forma, ficou 11 anos sem se dedicar às artes, mas cuidando dos filhos e da casa nunca largou seus panos.
Até que resolveu retornar há cerca de 20 anos. As dificuldades foram inúmeras. Ela conta que precisou conquistar seu espaço em meio aos artistas de sua geração que continuaram a carreira, aos que haviam entrado no mercado de trabalho durante este tempo em que ficou parada e aos que estavam começando. "Lutei, mas consegui."
Na mostra, o público é também convidado a participar dessa conquista e tentar fazer seus próprios nós (ou desfazê-los). Maria Ivone montou uma instalação com um balaio cheio de gravatas, uma tela de arame e vários cabidinhos. Cada um vai tentar fazer seu nó de gravata e pendurá-lo na tela.
No que se refera à técnicas e cores, Maria Ivone é tão múltipla quanto suas gravatas. Trabalha em tela sobre acrílica ou em técnica mista, sobre papel em aquarela, mas sempre com grande presença do desenho. As cores são sutis, os traços arredondados, ou as cores são fortes e o traço mais agressivo.
Serviço: Exposição individual "Persistências", da artista plástica Maria Ivone Bergamini Vannucchi, abre amanhã (8), às 19 horas, no Museu Universitário da PUC-PR (Rua Imaculada Conceição, 1155 - Prado Velho, telefone: 330-1604), onde permanece até o dia 8 de julho, de segunda a sexta-feira, das 9h às 21 horas e das 13h30 às 21 horas; aos sábados, das 8h às 11 horas.