Durante a próxima entrega do Oscar, dia 23 de março, quando chegar o momento do anúncio do vencedor da categoria melhor direção, a pomposa, septuagenária, frequentemente equivocada e atrapalhada Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood vai sacramentar uma das mais notáveis injustiças dos últimos tempos, de resto mais uma entre muitas ao longo dos 75 anos de história do prêmio.
Steven Spielberg, que já havia sido preterido em 1984, quando ''A Cor Púrpura'' foi injusta, clamorosa e literalmente discriminada 11 indicações, nenhuma estatueta , não faz parte do quinteto concorrente na categoria.
Seus corporativos pares acadêmicos não votaram nele, em que pese (e que peso!) o atual estado de graça do cineasta, duplamente demonstrado numa única temporada através de ''Minority Report'' e deste saborosíssimo ''Prenda-me Se For Capaz''.
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Preferiram completar a lista (justas as inclusões de Stephen Daldry, Almodóvar e Scorsese) com duas opções duvidosas: um Polanski acadêmico e sem novidades em ''O Pianista'', e um estreante, Rob Marshall, a reboque do brilho da produção de ''Chicago''.
''Prenda-me se For Capaz'' (veja a programação de cinema na página 2) está baseado no best-seller biográfico que narra a história real de Frank Abagnale Jr. (Leonardo DiCaprio), desde a adolescência um criminoso procurado por milionária fraude bancária e por exercer sem habilitação as profissões de médico, advogado e piloto comercial.
Mas a rocambolesca carreira fraudulenta deste personagem famoso na crônica policial americana não encontra vida fácil. O ladino Carl Hanratty (Tom Hanks), agente do FBI encarregado das investigações e da perseguição, torna-se incansável no jogo de gato e rato. Graças ao engenho e a boa dose de sorte, porém, a cada dia Abagnale tem um movimento pronto para evitar a captura, e está sempre um passo adiante.
Um dos pontos altos da narrativa é ter conseguido que os antagonistas sejam vistos com humanidade e respeito, sem a menor ingerência do refrão maniqueísta ''mau versus bom''. O que se instala, para conforto e desfrute do espectador, é uma interessante dinâmica entre os personagens, que se consideram rivais dignos e até experimentam certo afeto mútuo é inevitável, mas conduzida a bom termo, a relação paterno-filial entre perseguido e perseguidor, com a cumplicidade de dois atores aqui impecáveis.
Este recurso de dramaturgia acentua o suspense da trama e estabelece dupla empatia que dispensa as esquemáticas figuras de herói e vilão. Como prêmio, o desfecho acaba sendo lógico e satisfatório.