Vencedor de nove prêmios no 33º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e de outros nove no 5º Festival de Recife, incluindo as categorias de Melhor Filme, Direção e Ator, o longa-metragem "Bicho de Sete Cabeças" entra em circuito nacional no dia 22 de junho, em cerca de 40 salas do País.
Em Curitiba, houve uma sessão de pré-estréia na noite de quarta-feira. Estavam presentes a diretora Laís Bodanzky, o protagonista Rodrigo Santoro, o roteirista Luís Bolognesi e o autor do livro "Canto dos Malditos", no qual o filme é baseado, Austregésilo Carrano.
Mesmo antes da estréia nacional, o filme já construiu uma trajetória de sucesso dentro do País e se prepara agora para dar início a uma carreira internacional. A fita acaba de ser vendida para a rede Radiotelevizzione Italiana (Rai), o que significa que deverá entrar logo em circuito europeu. "Ainda não sabemos de que festivais internacionais o filme participará, mas certamente terá uma longa trajetória fora do País", diz a diretora. "Só que antes disto, eu espero que a gente lote todas as salas no Brasil", comenta.
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Com um importante papel social, o filme discute a cruel realidade manicomial do Brasil. O personagem Neto, vivido por Rodrigo Santoro, é um adolescente convencional até o dia em que seu pai (Othon Bastos) encontra um cigarro de maconha no bolso de seu casaco e o interna num manicômio. A partir daí, a trágica rotina do hospital é descrita e denunciada pelos olhos lúcidos de Neto.
O impacto do filme é tão grande que, em dezembro, após vencer o Festival de Brasília, Laís recebeu uma carta do Ministro da Saúde, José Serra, pedindo para que o filme fosse apresentado em sessão especial dentro do ministério. Coincidência ou não, há dois meses foi aprovada e sancionada pelo presidente da República a Lei Antimanicomial, que prevê a reforma psquiquiátrica no País. "De certa forma, acho que o filme impressionou o ministro", comenta Carrano.
Elaborado a partir de profundas pesquisas sobre o assunto, o "Bicho de Sete Cabeças" é uma ficção sobre os manicômios brasileiros, inspirada na história real de Carrano, conforme foi descrita em seu livro. O longa-metragem revela não apenas a monstruosidade do sistema psiqiátrico nacional, mas também a hipocrisia da sociedade em relação às drogas.
"O filme levanta uma série de questões e lembra que droga não é só um cigarro de maconha", diz o roteirista da fita. Bolognesi refere-se ao uso exagerado de medicamentos, ao fato do próprio pai do protagonista aparecer no filme bebendo whisky e ao uso lícito e indiscriminado do simples cigarro convencional pela população. "Estas ações não são consideradas pela sociedade como sendo uso de drogas", denuncia o roteirista.
Assim como toda a equipe do filme, o ator Rodrigo Santoro também fez um longo trabalho de pesquisa teórica e de campo, o que o ajudou a compôr o personagem principal da trama. "As cenas mais difíceis de serem feitas forma as que antecedem as sessões de eletrochoque, pois a angústia do personagem naquele momento de espera era muito grande", comenta Santoro.
Rodado no primeiro semestre do ano passado, em São Paulo, e finalizado nos laboratórios italianos da Cinecittá, em Roma, o filme tem 88 minutos de duração e custou aproximadamente R$ 1,5 milhão. Os recursos brasileiros, captados através das leis de incentivo federais, representam 50% do valor total. O restante foi bancado por parcerias com a italiana Rai e com a Fondation Montecinemaveritá, da Suiça.
No elenco, estão também a atriz Cássia Kiss, que interpreta a mãe de Neto; Jairo Mattos, Caco Ciocler, Luis Miranda, Valéria Alencar e Gero Camilo. Vale lembrar que todos os internos que aparecem no filme são atores ou figurantes. Outro destaque no longa-metragem é a trilha sonora, que conta com canções de Arnaldo Antunes e composições de André Abujamra.