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Noel e Maysa em Novas Leituras

Zeca Corrêa Leite - Folha do Paraná
10 dez 2000 às 14:44

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Dois CDs com poder de fogo para despertar paixões em quem ouvi-los estão nas lojas que se abrem às gravadoras alternativas: "Ninguém Pode Calar", com Alzira Espíndola dando uma aula de interpretação sobre as canções de Maysa, e "Noel por Ione", com a obra de Noel Rosa numa sensível leitura da baiana Ione. Os lançamentos são da carioca Dabliú Discos.

Para quem está acostumado com o repertório de Maysa, interpretado pela própria, fica difícil imaginar a ousadia de Alzira. No disco, batizado com o primeiro verso de "Resposta" (aquela música que diz "ninguém pode calar/ dentro de mim/ esta chama que não vai passar"), a cantora faz uma incursão pelo mundo iluminadamente sombrio da compositora e intérprete.

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Sem as grandes orquestras e os respeitosos arranjos, mas amparando-se nas cordas de violões, guitarras, baixos, violoncelos e percussão, Alzira transforma em blues as versões cristalizadas da artista de tristes olhos azuis.

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Clássicos como "Ouça" e "Meu Mundo Caiu" atingem outra dimensão. Esperança e desesperança andam juntas nas doze faixas do CD. Dez são de autoria de Maysa, e as duas restantes foram gravadas por ela: "Bom Dia Tristeza", que Vinícius de Morais mandou de Paris para Adoniran Barbosa musicar, e "Quem Quiser Encontrar o Amor", de Carlos Lira e Geraldo Vandré.

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"Ninguém Pode Calar" é um disco autoral - produzido por Alzira e Luiz Waack, foi criado de acordo com a fina sensibilidade de ambos. Waack está em todas as faixas, seja tocando guitarras até viola caipira. No transcorrer do disco varia entre dois a quatro participantes, incluindo aí a cantora. Mais íntimo, aparentemente frágil e dilacerante, impossível.


Mundo de Noel

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Ione tem 18 anos de carreira e chega, finalmente, ao primeiro disco. Sem a pressa dos falsos artistas que aparecem, tilintam os caixas das gravadoras e desaparecem sem deixar saudade, a cantora amadureceu o suficiente o repertório de Noel Rosa, produziu o CD e com a matriz debaixo do braço foi em busca de parceria. Essa é a história de "Noel por Ione", que chega ao público no mês em que o Poeta da Vila completa 90 anos de nascimento.


Não tem jeito - Noel acompanha Ione (e não o contrário) desde que foi apresentada a ele na casa de um amigo, quando ainda morava em Salvador, em 1984. Foi por acaso: interessada em conhecer a intérprete Aracy de Almeida, que ela conhecia apenas no papel de jurada de programa de TV, pediu para tocar aquele LP, só com músicas de Noel. Apaixonou-se imediatamente pela cantora e pelo compositor.

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A partir daí passou a pesquisar tudo que encontrasse sobre o autor de grandes clássicos e muito samba desconhecido. Noel compunha com a mesma facilidade com que respirava; era um formidável cronista. Ione buscou o repertório menos popular do artista, nem por isso inédito, e montou a lista com 15 títulos. Entre eles está a embolada "Minha Viola", que virou forró-caipira nos arranjos de Ronaldo Rayol e "No Baile da Flor-de-Lis". uma das cenas cariocas retratadas pelo autor.


A densidade que envolve "Coração", especialmente na segunda parte, quando entra a participação da cantora Simone Guimarães, lembra curiosamente Elis Regina. A impressão que se tem é de que a escola elisiana baixou ali por inteira. Apesar da letra bem humorada, inclusive colocando o coração no devido lugar ("não estás do lado esquerdo/ nem tampouco do direito/ ficas no centro do peito"), pois ainda assim a interpretação é contida, quase doída, como se o "órgão propulsor" guardasse em si tristes segredos.


Um detalhe apenas entre tantos, entre tanta poesia e sabores com que Ione tão bem alimenta seu disco de estréia. A cantora até que poderia repetir o já feito, mas permitiu-se a dar sua cor à tradição sambista. A contribuição deve ter agradado sobremaneira Noel, esteja onde estiver. "Ele não larga do meu pé", brinca Ione, porque intérprete de recursos, partiu para outras cantorias, mas acaba sempre voltando ao compositor da Vila Isabel.

"Ninguém Pode Calar", a obra de Maysa na voz de Alzira Espíndola. Leitura muito particular feita pela cantora e pelo produtor Luiz Waack. "Meu Mundo", "Ouça", "Resposta", "Adeus" estão no repertório. "Noel por Ione": os sambas de Noel Rosa na voz da cantora baiana Ione. "Cansei de Pedir", "Triste Cuíca", "Quando o Samba Acabou", "Caprichos de Rapaz Solteiro" estão entre as 15 músicas selecionadas. Lançamentos da gravadora Dabliú Discos, fone (11) 3079-1843, [email protected]


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