Campeão brasileiro, o primeiro time do Paraná a estampar a estrela dourada no peito, o Coritiba completa nesta segunda-feira 100 anos de fundação sem chances de levantar um caneco neste momento histórico. O campeonato estadual passou, a Copa do Brasil explodiu na trave, a Copa Sul-Americana ficou nos pênaltis e o Brasileirão parou na falta de elenco. Mas o clube pode dizer pelo menos que, em 2009, vem cumprindo o papel de time encardido.
Na cambaleante temporada do centenário, a torcida ainda respira fundo quando o assunto é rebaixamento. Mas ao mesmo tempo é capaz de se orgulhar dos golaços de Marcelinho Paraíba e vibrar com os atropelamentos do atacante argentino Ariel Nahuelpán, que tão bem interpreta o papel da raça operária, identidade guerreira do clube fundado em 1909.
Aos 30 do segundo tempo, contra o Internacional, na semifinal da Copa do Brasil, foi Ariel quem engatilhou no peito e disparou com a canhota o último suspiro de título alviverde deste ano. O gol não garantiu a classificação do Coritiba para uma decisão inédita, contra o Corinthians de Ronaldo, mas emocionou as arquibancadas do Couto Pereira.
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É por essas, diversas dessas ao longo dos 100 anos, que o desconfiado torcedor não desiste e garante que o time está sempre pronto para surpreender. O problema é que, de tão acostumado a sofrer com plantéis medíocres, às vezes não acredita no que vê.
Em 1973, quando ganhou o Torneio do Povo, título nacional sob a batuta do ídolo Dirceu Krüger, foi assim. E em 1985, ano da maior glória, também. Naquele Brasileirão, a estratégia do treinador Ênio Andrade era ser encardido acima de tudo. Apostou as fichas no preparo físico dos atletas, armou um esquema tático com dois volantes, Almir e Marildo, pôs o meia Toby para pressionar a defesa adversária e se deu bem.
Nas semifinais, o Coritiba jogou firme contra o Atlético-MG. Foi com essa marcação agressiva que o Coritiba bateu o Atlético-MG, para, em seguida, abocanhar o Bangu em um Maracanã com 90 mil pessoas. Nos pênaltis, com doses cavalares de sofrimento.
Quando Rafael Cammarota, goleiro de bigode indefectível e farta cabeleira, levantou a taça máxima do futebol nacional, Curitiba virou foguetório e o "Homem Nu", estátua de 10 metros de altura no centro da cidade, vestiu-se de verde e branco. "Foi uma epopeia, a consagração do clube. Na base da vontade, da garra", relembrou Rafael, hoje com 54 anos. "O time fez um pacto, fechou com o Ênio, e garantimos o título."
Aquele sonho de 1985 ainda não se repetiu, mas as esperanças se renovaram nos pés de pratas da casa. O Coritiba sonhou em manter a dupla de zaga Miranda (São Paulo) e Henrique (Barcelona). E imagina como seria se ainda contasse com os laterais Adriano (Sevilla) na esquerda e Rafinha (Schalke 04) no lado direito.
O meio-de-campo teve Alex (Fenerbahçe), e parecia que não precisava de mais ninguém. Ele foi o dono da intermediária com 18, 19, 20 anos até se transferir para o Palmeiras. No ataque, Marcel (Vissel Kobe) e Keirrison (Benfica), relampejaram e, assim como os outros, foram embora. "A filosofia de agora em diante é formar jogadores na casa que permaneçam no Coritiba", garante o atual presidente do clube, Jair Cirino.