O caminho de Silvia e Nickollas Grecco rumo à conquista do prêmio de melhor torcedor, entregue na segunda-feira pela Fifa, começou bem longe da cerimônia de pompa na Itália ou dos estádios de futebol que mãe e filho frequentam há sete anos para torcer pelo Palmeiras. A história dos dois começou em um hospital de Mauá, na Grande São Paulo, onde se encontraram pela primeira vez e iniciaram uma história que agora conquistou o mundo pela atuação dela em narrar os jogos para o garoto de 12 anos deficiente visual e portador de autismo.
De família palmeirense, Silvia decidiu anos atrás por aumentar a família. Além da filha mais velha, Marjorie, ela queria adotar uma criança e se inscreveu na Vara de Infância de Mauá, onde morava na época. Foram sete meses de espera até receber um chamado sobre a possibilidade de acolher um bebê de quatro meses, deficiente visual e nascido com apenas 500 gramas após uma gestação de apenas cinco meses interrompida por uma tentativa de aborto.
Antes de Silvia, 12 casais haviam recusado a adoção de Nickollas "Quando cheguei ao hospital, o médico trouxe o Nickollas e o colocou no meu colo, tive a certeza absoluta que seria meu filho Eu digo que com a minha filha eu cortei o cordão (umbilical), mas com o Nickollas nós amarramos o coração. Naquele instante eu mal conseguia ouvir o que o médico dizia pela emoção de ter o meu filho no colo", contou Silvia nesta terça-feira à rádio Eldorado.
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Mãe e filho se tornaram muito próximos desde aquele momento e passaram por momentos marcantes desde então. Aos cinco anos, o menino foi diagnosticado com um autismo leve, mas o problema não o impediu de estrear em estádios em março de 2012, no Pacaembu. A palmeirense Silvia quis transmitir a Nickollas a paixão pelo clube e o levou para acompanhar o jogo contra o São Caetano.
"Eu coloquei um fone de ouvido para ele ouvir o jogo no rádio. Mas ele tirava o fone. Ele vibrava muito com a torcida, já pulava logo no primeiro jogo. Queria escutar a torcida. Por conta do autismo, ele ainda não se expressava muito bem e falava em terceira pessoa: 'O Nickollas é porco'", contou Silvia. Para fazer o filho entender o que se passava no jogo, ela procurou trocar os fones de ouvido e se tornar a narradora particular dele sobre cada um dos lances.
Silvia decidiu observar atentamente narradores e radialistas para observar técnicas de locução e como poderia transmitir a emoção do jogo para o filho. "Quando estamos no estádio, os torcedores ao redor não gostam que se grite gol antes da hora. Mas eu tenho de me antecipar um pouco para contar para o Nickollas. Então, eu não ligo para isso", contou.
A presença dos dois em estádios para jogos do Palmeiras foi frequente nos últimos anos, até que em setembro de 2018 a dupla foi descoberta por uma equipe de reportagem da TV Globo. A locução da mãe para o filho conquistou primeiramente a torcida do clube alviverde e agora, com o prêmio da Fifa, ganha repercussão mundial. No discurso após receber a honraria, Silvia destacou a importância da inclusão social do portador de deficiência.
"Esse amor entre a gente supera tudo. Eu mudei muitos valores em função do Nickollas em minha vida", disse Silvia à rádio Eldorado. "O Nickollas foi um grande presente que a nossa família ganhou. Ele ensina muito para todos nós", completou.