Pacientes negros podem demorar de 5 a 6 anos a mais para conseguir um diagnóstico de Alzheimer, aponta novo estudo apresentado na última semana na reunião da Sociedade Americana de Radiologia (RSA, na sigla em inglês), em Chicago, nos Estados Unidos.
Além da demora na descoberta, só metade dos pacientes negros recebem indicação para fazer os exames diagnósticos que ajudam na detecção de Alzheimer, contra 60% e 67% dos pacientes brancos e latinos, respectivamente.
Leia mais:
Mudanças climáticas agravam epidemia global de tuberculose, diz cientista chefe da OMS
Paraná registra mais 264 casos de dengue
Dificuldade no diagnóstico atrasa tratamento de neuromielite óptica, doença que pode cegar
Nova tecnologia promete detectar HPV de forma rápida e barata
A pesquisa que apontou a diferença de tratamento e acesso à população negra americana foi conduzida por Joshua Wibecan, radiologista no Centro Médico de Boston, em Boston (Massachusetts), e colegas.
Para avaliar a demora no diagnóstico desta que é a principal causa de demência, os pesquisadores fizeram dois cálculos: o primeiro, a probabilidade de um paciente que vem a ter um diagnóstico de Alzheimer receber a indicação de fazer um exame de ressonância magnética da cabeça (MRI), principal ferramenta usada para confirmar o quadro; o segundo, com qual idade aquele ou aquela paciente realizou o exame diagnóstico.
Foram incluídos no estudo 1.699 participantes que fizeram ressonância magnética da cabeça no centro médico de 1º de março de 2018 a 28 de fevereiro de 2022. A cor de pele e raça dos participantes era autodeclarada, sendo que 697 se declararam negros (afroamericanos), 377 brancos, 275 latinos ou hispânicos e 275 tinham outra etnia, classificados em conjunto como outros grupos.
Em média, os pacientes negros receberam o diagnóstico de declínio cognitivo associado a Alzheimer com 72,5 anos, contra 67,8 entre os brancos e 66,5 para os hispânicos e latinos.
Cerca de 50,9% dos pacientes negros fizeram a ressonância magnética para confirmar a doença, taxa que subiu para 60% entre os brancos, 67% entre hispânicos e 68,2% para os demais grupos étnicos.
Para Wibecan, o estudo indica tanto a demora na descoberta do declínio cognitivo nos pacientes negros quanto a falta de indicação para esse grupo populacional aos exames diagnósticos mais adequados.
"Primeiro, pacientes negros que receberam a indicação para MRI eram bem mais velhos do que os seus similares brancos ou hispânicos. Segundo, os pacientes negros recebiam bem menos a indicação de exame de imagem do tipo MRI, o mais indicado para a detecção correta de Alzheimer, em relação ao CT-Scan [outro tipo de exame menos indicado]", disse.
Apesar de ser importante a avaliação de um médico neurologista para a suspeita de Alzheimer, os exames de imagem ainda são os mais usados para confirmação do quadro de declínio cognitivo. Por essa razão, o atraso no diagnóstico pode levar a anos perdidos em que o paciente poderia receber um tratamento e até reduzir a progressão da doença.
"Se a desigualdade em obter exames de imagem cerebrais é uma das possíveis barreiras que atrasam o diagnóstico, é importante verificar isso e encontrar soluções para ajudar o paciente da melhor forma possível e evitar essa demora na detecção", afirma Wibecan.
Os autores do estudo concluem que novos estudos são necessários para entender as desigualdades raciais observadas e reduzir as barreiras associadas ao diagnóstico de pacientes negros no contexto americano.
O Alzheimer é o principal tipo de demência, correspondendo a 60% a 80% dos casos diagnosticados, e mais de 10 milhões de novos casos são identificados a cada ano em todo o mundo.
Segundo levantamento feito pela Abraz (Associação Brasileira de Alzheimer) em setembro, há 1,7 milhão de pessoas vivendo com demência no país, e o Alzheimer corresponde a 55% dos casos (966.594).