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Nada se cria

07 out 2010 às 15:18

Sim, estou há meses sem postar nada por aqui. Mas volto para falar de algo que acho interessante. Estive por três semanas em Washington DC trabalhando como repórter no Washington Post. Depois de 20 dias de trabalho intenso, resolvi aproveitar minhas últimas horas na cidade para assistir The Social Network, filme de David Fincher sobre a criação do Facebook, que estréia no Brasil em dezembro.

Só para tirar o básico do caminho antes de começar com o papo mais sério: sim, o filme é muito bom, divertido. Justin Timberlake está impagável como o "vilão" da história – o criador do Napster, Sean Parker. Mark Zuckerberg, o pai do Facebook, também é um personagem curioso, um homem sem habilidade social nenhuma que acaba por criar um site que promove justamente a interação entre pessoas.


Mas só para entrar direto no assunto: o tema central do filme não é exatamente o Facebook, e sim uma discussão velha, mas super atual em tempos de internet. Afinal, o que é uma criação original? A história do filme gira em torno dos processos movidos por Eduardo Saverin (co-fundador do site) e pelos irmãos gêmeos Winklevoss. Os três alegam que, ao contrário do que Zuckerberg diz, o Facebook foi resultado também das ideias deles.


Eduardo Saverin foi responsável pelos primeiros dólares que permitiram a Zuckerberg dar o pontapé inicial na ideia de criar um site de relacionamento para alunos de Harvard. Já os irmãos Winklevoss haviam convidado Mark para desenvolver a Harvard Network pouco antes dele decidir tocar o projeto do Facebook por conta própria.


Zuckerberg, no entanto, optou pelo caminho solitário. Deixou os irmãos Winklevoss para trás. E quando deixou de precisar de Saverin, fez o mesmo com o amigo. Dessa vez com a ajudinha de Sean Parker. Alguém pode dizer que, no fim das contas, ideias todos tem. Mas quem efetivamente sentou na frente do computador e trabalhou muito para colocar o Facebook no ar foi Zuckerberg. Será esse esforço o que realmente separa o verdadeiro criador dos demais?


Mas mesmo sem a disputa entre Winklevoss, Saverin e Zuckerberg, a questão é: até que ponto o Facebook é realmente original? Na época – meados de 2004 – o MySpace já existiu, o Orkut tava começando. Ideia original? Nem tanto, não é mesmo?


O que exatamente separa uma ideia que pode ter dono de uma que é coletiva? Nunca pensou nisso? Pois está na hora de pensar. O Ministério da Cultura está discutindo uma nova redação para a lei brasileira de direitos autorais. A ideia é atualizar o texto para que ele seja capaz de lidar com situações novas criadas pela internet e outras novas tecnologias.


Um dos principais desafios para a lei de direitos autorais na internet é justamente a tal criação coletiva. Isso funciona muito bem, até que alguém resolva ganhar dinheiro com a criatura. Aí a coisa complica. Quem é que tem direito a um pedaço do bolo?


No caso do Facebook muita gente pode argumentar que o site é diferente do Orkut, do MySpace. Mas quanto diferente ele tem que ser para ser original? Quer dizer que se eu pegar uma ideia e mudar, vamos dizer, 40%, posso chamar ela de minha?

Esse é um bom momento para começar a prestar atenção nessas discussões sobre direitos autorais. Ao contrário do que muita gente pensa, qualquer alteração na lei não afeta só aqueles que vivem de produzir arte – ou jornalistas - mas todo mundo que cria. E quem consome essas criações.


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