Estava eu a mexer no arquivo de jornais que tenho em casa quando encontrei um exemplar da Folha de Londrina de 7 de dezembro de 2006. Nesse jornal, está uma das melhores matérias assinadas por mim nos cinco anos que trabalhei na Folha.
Porém, eu não escrevi nenhuma linha dela, não entrevistei nenhum de seus personagens, não pesquisei qualquer dado a respeito do assunto abordado.
A história já é conhecida de alguns amigos, mas conto para quem ainda não a conhece.
Acontece que, naquele começo de dezembro, o motorista Jenes Almeida, o fotógrafo Eduardo Anizelli e eu fomos escalados para passar uma semana procurando boas matérias no Norte Pioneiro do Paraná.
A ordem era chegar em algumas cidades já determinadas pela chefia de redação, achar uma boa pauta, produzir a matéria, mandar para o jornal pela Internet e partir para a próxima.
Passamos por Congonhinhas, Ibaiti, Tomazina, Carlópolis, Ribeirão Claro, Siqueira Campos, Wenceslau Braz e Joaquim Távora.
Trabalhamos para valer. Escrevemos e fotografamos sobre um monte de coisas, que vão de um lixão clandestino em Siqueira Campos, passando pela produção de frutas orgânicas em Carlópolis e chegando à decoração natalina de uma praça de Joaquim Távora. Foram nove matérias, no total.
Todas publicadas naquela semana.
Paralelamente, Widson Schwartz, um dos maiores pesquisadores da história do Norte do Paraná e experiente/competente jornalista, enviava para a Folha outra matéria produzida lá pelas bandas do Norte Pioneiro: "Olha o trem: o tesouro da São Paulo-Paraná."
Widson contava a história de Jairo Diniz, ex-funcionário da Companhia Ferroviária São Paulo-Paraná em Ourinhos (SP), que descobrira, por acaso, 105 documentos históricos da construção do ramal ferroviário, que fora fundamental para a colonização de Londrina.
Reparem que Widson Schwartz e Wilhan Santin têm algo em comum. Não é o talento nem o conhecimento, infinitamente maiores no Widson. São as iniciais W.S.
Na confusão de iniciais semelhantes dos repórteres, os editores acabaram assinando a matéria dele com o meu nome.
Quando voltei para casa - eu ainda era solteiro -, meu pai esperava para me dar os parabéns.
- Li todas as suas matérias. Muito boas, mas a do trem é a melhor de todas! – exclamou seu Lorival.
Nem tive coragem de contar a verdade para ele. Não poderia decepcionar o velho naquele momento.
Tomei banho e me mandei para a casa da Luanna, na época ainda minha namorada. Era o finalzinho de tarde de uma sexta-feira calorenta. Meu saudoso sogro, Celso Inocente, estava sentando em um cadeirão na calçada. Ele sempre falava de forma objetiva.
- Li suas reportagens. A do trem é muito boa.
- E das outras, seu Celso? O senhor não gostou das outras?
- Dão pro gasto.