Não sei se estou envelhecendo, ficando ranzinza ou se é pelo fato de eu ter um bebê em casa.
Parece-me que a cada dia estão se multiplicando estes sujeitos que andam pela cidade com o som de seus carros na última altura.
Não tenho nada contra os caras que querem perder a audição bem antes de chegarem à velhice. Mas tenho tudo contra quem não se importa com as outras pessoas.
Além disso, causa-me grande curiosidade: por que ouvir o som tão alto? Para matá-la, entrevistei um representante desta espécie em franca expansão.
Um feliz proprietário de uma Saveiro, que disse ter 25 anos, topou a entrevista. Mas não quis se identificar quando eu disse que a publicaria no blog. Em todo caso, vamos lá.
- Por que ouvir um som tão alto?
- Não é alto.
- Claro que é. De dentro do meu apartamento, no terceiro andar, há uma quadra daqui eu estava ouvindo o som do seu carro. E bem alto.
- Eu falei para a rapaziada que chegava longe. E chega mesmo. Tenho R$ 8 mil de som aqui na Saveiro. Pode reparar que não dá chiadeira. É som limpo.
- Mas então me diga: por que ouvir tão alto?
- Ah, as mina pira!
- Realmente tem mulheres que dão moral para você por causa do som?
- Ixi! De monte. Eu não pegava ninguém. Depois que instalei esta "sonzera", tá chovendo na horta do papai aqui.
- Você nunca pensou que, por causa do seu som nas alturas, bebês acordam, gente que mesmo aos domingos entra no trabalho de madrugada também acorda, idosos doentes são incomodados?
- Não. Nunca pensei nisso, não.
- Pois deveria pensar.
- Mas eu nunca paro na frente da casa de ninguém. Só passo com o som alto. É rapidinho. Nem dá tempo de incomodar.
- Dá tempo sim. Incomoda. E muito. Quando você chega à sua casa, o que dizem sobre o som?
- Não. Eu desligo umas duas quadras antes de chegar em casa. Senão meu pai reclama. Os vizinhos também.
- Tá vendo?
- Vendo o quê?
- Incomoda, sim. E o repertório musical? Qual é o seu critério de escolha?
- Fico entre funk e sertanejo universitário. O que as mina tiver pirando mais eu deixo rolar.
- Você não tem medo de ficar surdo?
- Ãh? Quê?
- Deixa para lá.
- Não vai publicar a placa da minha "saveroza", hein.