Eu sei que os estádios da Copa estão consumindo uma dinheirama, que o tão prometido "legado" do evento vai ficar só no papel, que o Londrina corre sério risco de não se classificar para a próxima fase do paranaense e que uma tal música chamada "Lepo, Lepo" ecoa por aí. Mas será que tudo isso é motivo para o povo andar tão estressado?
Não quero viver num mundo de Teletubbies, - você se lembra dos Teletubbies? - onde tudo é lindo, colorido e risonho, porque seria chato demais. Mas não custa nada sorrir, dizer obrigado, por favor e desculpa, né? Afinal, somos civilizados. Tá, não somos totalmente, mas dizemos que somos...
Bom, chega de lero-lero (não confundir com Lepo, Lepo) e vamos à prática. Escrevi tudo isso aí de cima por causa de três situações vividas nesta semana.
A primeira foi no estacionamento do mercado. Um sujeito resolveu parar em fila dupla. Outro manobrava, com dificuldade, para enfiar o carro numa vaga. Formou-se um pequeno engarrafamento de meia-dúzia de automóveis. Uma senhora que estava no carro ao lado do meu, muito chique, por sinal – o carro, não a senhora – socou o dedo na buzina. Minha filha, que dormia na cadeirinha, no banco de trás, assustou-se com o barulho e começou a chorar.
Desci o vidro do lado do passageiro e fiz sinal para a mulher não buzinar mais. Foi pior. A madame apertou o botão da buzina com ainda mais vontade. Desci, fiz sinal para ela abaixar o vidro, que tinha película escura. Quando ela abaixou e vi aquela cara medonha, quase pedi para que subisse o vidro de novo. Não deu tempo.
- Quiquié? – esbravejou, com um olhar de quem me pegaria pelo pescoço no próximo segundo.
- Só queria pedir para a senhora não buzinar. Estou com um bebê no carro...
O vidro foi subindo enquanto eu falava. Ela não pediu desculpa nem nada, mas parou de apertar a buzina. Ainda bem.
Segundo ato.
Ontem, fomos fazer matéria em Apucarana. Como não conhecemos a cidade, logo estávamos perdidos em um bairro qualquer. Paramos para pedir informação numa paróquia. Era hora do almoço, mas o salão paroquial, nos fundos, estava aberto, embora sem ninguém na recepção. Bati palmas para ver se aparecia uma alma.
Uma janela se abriu e apareceu um senhor. Não sei se era o padre, o secretário, o bispo. Só sei que não era o papa, pois o Chicão é pura simpatia.
- Quié? – ele disse, com cara de poucos amigos.
- Eu gostaria de saber como chego ao mercado Alvorada?
- É aí pra trás.
- Ah, então estou perto. Mas como devo fazer para chegar até lá?
- É aí pra trás.
- Sim, mas para trás onde exatamente? Viro para a esquerda, para a direita?
- É pra trás. Tem que procurar.
E a janela se fechou.
Terceiro e último ato, a gota d’água para que eu compartilhasse as mágoas com você.
Foi há pouco. Vou entrar no elevador, a vizinha vem para entrar também. Seguro a porta para ela. A danada fica com um pé dentro e outro fora da cabine conversando com uma comadre. E eu apertando o botãozinho que segura a porta, com esta cara de tonto que a natureza me deu.
Elas conversam, enquanto os filhos da vizinha também se dirigem, lentamente, à máquina que sobe e desce. E eu apertando o botãozinho, para a segurança geral da nação. Entram todos no elevador. Ninguém olha para a minha cara nem para um oi.
Chegamos ao andar delas. Descem, enquanto eu seguro o botãozinho de novo para que ninguém se machuque, especialmente as crianças. A mulher, a comadre que a visita e as crianças se vão, sem dizer tchau, obrigado ou olhar para a minha cara. Eu fico ali, segurando o botãozinho.