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O Londrina da várzea do Rio Negro

25 abr 2016 às 07:12
Quando esteve na comunidade, Sergio Ranalli clicou os garotos jogando sobre flutuantes com a camisa do Londrina - Sergio Ranalli/Folha de Londrina
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Há 3,5 mil quilômetros do Norte do Paraná, em uma comunidade flutuante da Amazônia, tem um time que leva no peito um distintivo com um ramo de café

Na margem direita do Rio Negro, alguns quilômetros antes do famoso encontro com as águas do Solimões e da formação do Amazonas, há uma comunidade ribeirinha, chamada Catalão, que atrai visitas de turistas pelo fato de todos morarem em casas flutuantes. São mais de cem famílias vivendo à mercê das águas, subindo e descendo de acordo com as enchentes e as vazantes do rio.

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São marcas registradas do lugar a simpatia do povo, o peixe servido no restaurante da dona Raimunda Ferreira Viana, 52 anos, líder comunitária dali, e a paixão que os moradores nutrem pelo futebol. Não se passa um dia sem uma partida em Catalão, nem que seja uma simples pelada de pés descalços.

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Mesmo na época da intensificação da cheia, que vai destes dias de fim de abril até o início de agosto, quando se inundam os campos das várzeas, a bola não deixa de rolar. Os "atletas" providenciaram flutuantes e jogam sobre eles, com o refrescante incômodo de ter que pular na água para buscar a bola a cada lateral, escanteio ou tiro-de-meta.

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Mas não bastasse o entusiasmo pelo esporte, o que por si só serviria para uma reportagem, há um fato ainda mais interessante para quem é do Paraná. Um dos times mais tradicionais de Catalão leva o nome de Londrina e carrega no peito o distintivo do Londrina Esporte Clube, como homenagem ao Tubarão.


Ninguém dali jamais pisou na terra vermelha do norte paranaense. Também não se sabe ao certo o porquê de um José Valentim, o Bacural, morto há dez anos, ter escolhido justamente o nome de Londrina para batizar o time que ele, o compadre Mauro Coelho de Lima, 67, e outros amigos fundaram em 1984.

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"Como a influência dos clubes cariocas é muito forte por aqui, um queria que o nosso time se chamasse Vasco, outro sugeriu Flamengo, mas o compadre determinou: vai ser Londrina. Foi algo que caiu na mente dele. Não sei explicar o motivo", comenta Lima.
Definido o nome, logo foram adotadas também as cores azul e branco e o escudo do Londrina original, com o ramo de café e tudo.


Hoje, usando marca-passo para superar uma arritmia cardíaca, Lima já não joga. É uma espécie de presidente de honra do Londrina de Catalão. Quem comanda o time, exercendo as funções de atleta, treinador, supervisor e afins é um dos filhos dele, Frank Coelho, 35, zagueiro, camisa 3.

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Divulgação/Frank Coelho
Divulgação/Frank Coelho - O Tubarão da Amazônia em dia de jogo
O Tubarão da Amazônia em dia de jogo


Na era da Internet, Frank, que trabalha como vigilante em Manaus e se dedica ao time nas horas vagas, pesquisa tudo o que pode sobre o Londrina Esporte Clube. Tem como orgulho o fato de ter conseguido comprar uma camisa original do clube, por meio de um site especializado, gastando mais de R$ 200. Para o time, já que não há dinheiro suficiente para comprar camisas originais para todos os atletas, os uniformes são feitos em Manaus.


As mulheres e os filhos dos atletas também ganham camisas. Em Catalão, é comum ver meninos jogando sobre os flutuantes utilizando camisas do Londrina local. Quando visitou a comunidade, em junho de 2015, o editor de fotografia da FOLHA, Sergio Ranalli, chegou a retratar os garotos devidamente uniformizadas jogando nos flutuantes. Um deles é o Mauro, 13 anos, sobrinho de Frank.

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Tudo é organizado. Cada jogador tem uma carteirinha de atleta e os familiares ganham carteiras de torcedores. Nos dias de jogos fora de casa, as comitivas são organizadas para as viagens de barco. Os deslocamentos são sempre por vias fluviais. Se possível, viajam juntos os garotos do time juvenil e as mulheres da equipe feminina.


Frank Coelho/Divulgação
Frank Coelho/Divulgação - Em dia de jogo, os deslocamentos são fluviais. Na foto, à frente, Frank com sua esposa e com seu pai, Mauro, fundador do time
Em dia de jogo, os deslocamentos são fluviais. Na foto, à frente, Frank com sua esposa e com seu pai, Mauro, fundador do time


Atualmente, o Londrina da Amazônia está se preparando para estrear no dia 15 de maio no campeonato amador do município de Iranduba, do qual faz parte a comunidade de Catalão. Frank está confiante. Buscou alguns reforços na capital do Estado e está juntando a rapaziada para treinar sempre que dá. O time campeão vai receber um prêmio de R$ 10 mil.

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No ano passado, o Londrina de Catalão conquistou um de seus títulos mais importantes, levantando a taça do amador do distrito de Janauri. Como premiação, recebeu dois bois. Os animais viraram churrasco para a comunidade toda.


"Rapaz, nós somos verdadeiros apaixonados pelo futebol e pelo Londrina aí do Paraná, mesmo sem a possibilidade de ver o time de perto. Mas temos a esperança de um dia assistir a um jogo do Tubarão", comenta Frank, entusiasmado.

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A pedido da FOLHA, Luizão, zagueiro do LEC, gravou um vídeo que foi enviado por um aplicativo de celular, via Internet, para Frank. Um papo de camisa 3 para camisa 3. Entre outras coisas, Luizão disse que espera um dia formar uma dupla de zaga com Frank. Lá de Catalão, ele respondeu. "Estou muito feliz, seria um sonho jogar ao lado deste cara".


Para fechar, o time base de um outro Londrina, que não é o LEC e que joga na várzea, a 3,5 mil quilômetros do Estádio do Café (quando o rio não está cheio): Mauro, Goró, Lula, Frank e Madson; Palheta, Tiutchu, Wesley e Amauri; Arilson e Erlan.

*Matéria publicada originalmente na Folha de Londrina de 25/04/2016


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